terça-feira, 28 de junho de 2011

Floresta vira cemitério

Cidade de Zurique oferece a partir de 2003 florestas para que pessoas espalhem cinzas de familiares e amigos depois da cremação. O aluguel por vinte anos de uma árvore familiar custa entre mil e dois mil francos.

Empresas particulares exploram também o mercado dos “enterros naturais”. “Friedwald”, do cantão de Zurique, tem 40 florestas e cobra até cinco mil francos suíços.

Cansados do ambiente pesado e sisudo dos cemitérios europeus, suíços procuram alternativas para o último momento de parentes que falecem. Uma delas é o chamado “enterro natural”, quando familiares colocam as cinzas do falecido num orifício ao lado das raízes de um grande carvalho na floresta.

O novo projeto da prefeitura de Zurique, intitulado „Deposição de Cinzas na Floresta”, disponibiliza a partir do início de 2003 duas parcelas verdes com aproximadamente 3,3 hectares cada uma, onde é possível realizar essa cerimônia. Uma das florestas localiza-se ao lado do cemitério de Hönggerberg, ao norte de Zurique, e a outra está próxima do cemitério de Leimbach, na parte sul da cidade.

200 francos para ser enterrado na mata

Os preços são módicos. Cidadãos do cantão de Zurique pagam 200 francos suíços para que as cinzas do falecido possam ser colocadas no pé de uma árvore coletiva durante vinte anos. Pessoas de outros cantões e estrangeiros pagam 338 francos suíços.

Para famílias que procuram um pouco mais de exclusividade, a prefeitura oferece também serviços especiais. “Nós também alugamos árvores privativas, onde cinzas de membros de uma família possam ser colocadas, assim como num mausoléu privado”, explica Sergio Gut, diretor do Departamento de Enterros de Zurique. Esse serviço custa mil francos para os habitantes do cantão e dois mil para estrangeiros.

Nas “florestas-cemitério” não existem cercas

A diferença entre o enterro de cemitério e o “enterro natural” nas florestas é grande: na mata suíça é proibido colocar cercas, placas, lápides ou flores, e não há nada que impeça a entrada de turistas ou atletas.

O espaço pertence ao domínio publico. O cortejo fúnebre, nesse caso, atravessa pela floresta em silêncio carregando a urna até a arvore escolhida. Depois as cinzas são colocadas dentro de um buraco, feito ao lado das suas raízes. A árvore é marcada pelo funcionário e a família pode, então, visitar durante 20 anos o local onde seu parente foi enterrado. “Depois desse período, é possível também fazer uma prolongação”, afirma Gut.

A iniciativa da prefeitura de Zurique não foi bem recebida pela concorrência. “Eu acho uma falta de respeito da prefeitura de Zurique: com seu poder, entrar num mercado em concorrência contra uma pequena empresa, que já trabalha há anos nesse setor e patenteou inclusive essa idéia. Estamos consultando nossos advogados para saber se iremos processá-los”, declara Uli Sauter, diretor da “Friedwald”.

Ueli Sauter, diretor da empresa "FriedWald", oferece árvores familiares por até 5 mil francos suíços.
Ueli Sauter, diretor da empresa "FriedWald", oferece árvores familiares por até 5 mil francos suíços. (Keystone)

"Enterro natural" é uma idéia patenteada

O engenheiro elétrico Sauter, um suíço de Thurgau, criou sua empresa em 1999, depois de conseguir passar por todos os trâmites burocráticos para patentear a idéia dos "enterros naturais" em toda a Europa. Administrando 40 pequenas florestas, que pertencem a prefeituras ou particulares, a "Friedwald" já dispõe até de filiais na Alemanha.

Junto com sua esposa, Sauter aluga árvores particulares para famílias, onde todos os seus integrantes podem ser enterrados. "Quando as cinzas são colocadas do lado das raízes de uma árvore, essas pessoas retornam finalmente à natureza, de onde todos nós somos originários", descreve o ex-engenheiro. O aluguel de uma árvore nas parcelas da "Friedwald" tem uma duração de 99 anos e custa entre 4 e 5 mil francos suíços.

swissinfo, Alexander Thoele

Direito à morrer: a Suíça dá uma lição de vida

Câmaras filmam os últimos momentos da vida de um candidato ao suicídio, que havia sido orientado pela associação suíça Exit. O documentário será exibido no outono na televisão francesa.

O cérebro de Jean Aebischer estava cheio de metástases que poderiam levar ao coma a qualquer hora.

“A segunda e a última parte das filmagens foram os momentos mais emocionantes para mim”, explica o jornalista Stéphane Villeneuve, da agência CAPA. “Nesse dia Jean Aebischer entrava na pele de um condenado à morte”.

O diagnóstico era claro. O cérebro de Jean Aebischer havia sido invadido por metástases (migração por via sangüínea ou linfática de produtos patológicos como vírus, bactérias, parasitas ou células cancerosas, provenientes de uma lesão inicial) que poderiam, a qualquer momento, provocar uma hemorragia cerebral ou uma ruptura do aneurisma (dilatação anormal, localizada, de um vaso sangüíneo, em especial de uma artéria), conduzindo a pessoa fatalmente ao coma.

“Jean não sabia nem se iria festejar reveillon. A qualquer hora ele poderia cair em estado vegetativo, o que seria na sua opinião a pior das situações”.

Três dias após o último exame, Jean Aebischer convocou a associação suíça de eutanásia “Exit” para escolher a data do encontro final. Ele fixou seu dia de morte em 6 de janeiro.

A escolha de um ser humano

“A história acabou balançando com a minha cabeça. Nós passamos de um projeto virtual para uma realidade planificada”, relata Villeneuve.

O jornalista e a co-realisadora do documentário Stéphanie Malphettes acompanharam Jean Aebischer até o último suspiro. Porém outros documentaristas já haviam realizado a fase final de um suicídio sem, no entanto, ter acompanhado a pessoa por mais de três meses.

“Nossa proposta não era realizar um documentário sobre o suicídio acompanhado, mas sim testemunhar a escolha de um ser humano que, sabendo estar condenado, decide terminar seus dias de forma digna e em consciência”, explica Villeneuve.

A idéia do projeto já era de longa data. O caso “Humbert”, do nome de um jovem francês tetraplégico conduzido à morte por sua mãe e médico, trouxe o tema para a atualidade.

“A seção francesa da Exit nos pediu para facilitar o trabalho de uma equipe de cinegrafistas”, conta o médico Jérôme Sobel, presidente da Exit na Suíça. “Nosso objetivo era mostrar de forma transparente o que ocorre no país”.

“O melhor serviço que nós podemos realizar aos novos colegas europeus é de facilitar a abertura do debate e, no melhor caso, ajuda na modificação das leis”, afirma o médico. “É necessário a qualquer preço evitar que doentes precisem abandonar seus países para beneficiar do direito de morrer dignamente”.

Então foi necessário encontrar um candidato para as filmagens. “Nós não precisamos convencer Jean Abischer, pois ele estava satisfeito de poder testemunhar”, se lembra Nada Walter, voluntária ativa na associação Exit.

Ela, que preparou a mistura mortal de líquidos, acrescenta: - “Imagine a angústia de uma pessoa que, sabendo-se condenada, deve ainda esperar pelo momento fatal”.

Lição de vida

“Nós não éramos favoráveis à realização desse documentário, porém meu pai não quis impedir”, relata Olívia Aebischer.

Uma coisa é certa: no contexto político e emocional que transcorreu durante o caso Humbert, na França, a testemunha de Jean Aebischer não deixará o público indiferente.

“A Suíça, que muitos franceses consideram como país conservador, mostra que é capaz de dar um exemplo de abertura e tolerância”, reforça o jornalista Villeneuve.

“Se ocupar da morte é a melhor lição de vida que nós podemos dar”.

swissinfo, Vanda Janka
tradução de Alexander Thoele

Uma exposição para olhar a morte de perto

Durante um ano, a jornalista Beate Lakotta e o fotógrafo Walter Schels acompanharam doentes terminais em diversos hospitais de Hamburgo e Berlim.

O trabalho dos dois alemães resultou em fotografias e relatos emocionantes, exibidos agora em Berna, e que mostram um lado pouco conhecido do último tabu da humanidade: a morte.

As pessoas caminham em silêncio e observam cada detalhe com atenção. Algumas precisam retirar o lenço para secar discretamente algumas lágrimas que descem o rosto. Muitas passam minutos fixando as grandes imagens. O ambiente é de silêncio, reflexão e respeito.

De fato, o tema da exposição está muito mais próximo das pessoas do que elas gostariam. Intitulada "Viver mais uma vez antes da morte", ela é um sucesso que já trouxe mais de 2.300 visitantes ao espaço cultural Kornhausforum, em Berna, desde que foi aberta ao público em 17 de outubro.

No grande salão são exibidos cinqüenta gigantescos retratos em preto-e-branco que contam a história de vinte e cinco doentes terminais, internados em hospitais de Berlim e Hamburgo entre 2003 e 2004. São sempre duas fotos: uma mostra a pessoa em vida e a outra, após o falecimento.

Tudo fica importante

Uma delas é a de Wolfgang Kotzahn, atingido por um fulminante câncer no pulmão e no último estágio da doença. "Hoje completo 57 anos. Nunca pensei que ficaria velho e que também poderia morrer tão cedo. Porém, a morte não conhece idade. Só me espanto de ter aceitado isso tão facilmente", revelou. A resignação fez com que Kotzahn abrisse seus olhos para os mais ínfimos detalhes da vida. "Nunca havia dado atenção às nuvens. Agora vejo tudo com muita atenção: cada nuvem na janela e cada flor nos vasos. De uma só vez, tudo ficou importante."

Alguns dos rostos transparecem paz e relaxamento. Outros não escondem a revolta. Para compreendê-los, é necessário ler cada descrição. "Os textos são uma ponte para as fotos", explica o autor e fotógrafo alemão Walter Schels, nascido em 1936, conhecido também por suas caracterizações de personalidades.

Durante um ano, ele trabalhou junto com sua esposa, Beate Lakotta, uma premiada jornalista de 39 anos e redatora de ciência da revista Spiegel, para realizar todos os perfis. O local de trabalho foram os chamados "Hospizen", instituições comuns em quase todos os países europeus e que, ao contrário dos hospitais, recebem apenas doentes terminais já desenganados pelos médicos. "Quem chega nelas tem a consciência de que o fim chegou", diz Lakotta.

Deus é justo?

Heiner Schmitz, 52 anos, era executivo de uma grande agência de propaganda em Hamburgo quando os médicos lhe revelaram que o câncer que devorava seu cérebro não tinha mais cura. Foi apenas nesse momento que o autodenominado workaholic descobriu a fragilidade do próprio corpo.

Os detalhes anotados por Lakotta personalizam cada uma das situações, sem cair no piegas. "Os colegas da agência vinham sempre visitá-lo em dupla. Eles tinham medo de ficar sozinhos com Heiner. O que falar com alguém condenado à morte?", conta. Ela também revela que Heiner até era capaz de ser sarcástico. "Eles me desejavam melhoras e diziam – 'Ei Heiner, não se preocupe, pois você logo vai estar de pé'. Ninguém me perguntava como me sentia. O fato é que eu penso todos os segundos na morte. Eu vou morrer!"

Abaixar a cabeça e refletir. As imagens foram feitas com tanta proximidade, que seria até possível sentir a respiração dos retratados. As histórias que as acompanham reforçam ainda mais a impressão de estar envolvido nos dramas pessoais de cada um. A descoberta mais marcante é que todos fazem um balanço de vida. Uns aceitam com placidez, e até otimismo, a morte. Outros não escondem a frustração com uma vida mal concluída.

A última promessa

Silke Boehmfeld recusava-se a aceitar seu destino. Essa alemã tinha apenas 30 anos quando o câncer nos seios foi diagnosticado. Logo depois, os médicos descobriam em Jannick, seu filho de seis anos, um raro tumor.

Às vezes, ela perguntava por que Deus cometia uma injustiça tão grande de querer levar, de uma só vez, dois membros da mesma família. Em outros dias, ela juntava forças para cumprir sua promessa: morrer só depois do filho. A luta dos dois foi inglória, mas ela ainda conseguiu sobreviver quatro meses ao falecimento de Jannik.

Também os pais da pequena Elmira Sang Bastian, um bebê de apenas 17 meses, não compreendiam a lógica divina. "Isso é uma prova? Eu sempre tentei ser uma pessoa boa. Leio todos os dias o Corão e procuro respostas. Ninguém me pode fornecê-las?", perguntava-se a mãe de Elmira.

Ela não compreendia porque a filha nasceu com um tumor enquanto a irmã gêmea era saudável. "Deus me deu duas crianças e agora retira uma de mim?" Quando o bebê parou de respirar, seus pais pareciam conformar-se com o destino. "Pelo menos ela pôde viver", disseram antes de ler a 36ª sura do Corão, a que fala sobre a ressurreição dos mortos, para a filha sobrevivente.

Já Ursula Appeldorn, 57 anos, outra das retratadas, via a situação com outros olhos. Talvez devido à sua avançada demência, ela não percebia que o Hospiz era a última etapa. Depois de ajeitar as bonecas na cômoda do quarto, ela mostrou à jornalista que se sentia em casa. "Antes era doente, mas agora que comecei a tomar medicamentos já estou completamente saudável. Você se incomoda se eu fumar?"

A morte já foi algo natural

Pelo trabalho realizado, Schels e Lakotta ganharam o Prêmio "Hansel-Mieth" para reportagens engajadas e também o Prêmio Social Alemão. Os retratos também receberam o segundo prêmio no concurso "World Press Photo" de 2004, o Lead Award 2004 e uma medalha de ouro do Clube de Diretores de Arte.

Mais do que o reconhecimento, Beate Lakotta vê na exposição uma contribuição cultural. "Antes a morte era algo comum que ocorria no seio da família. As pessoas vivenciavam-na no seu cotidiano, nas suas casas. Hoje ela ocorre distante dos nossos olhos, nos hospitais ou outras instituições especializadas."

Em sua opinião, esse isolamento faz com que as pessoas tenham medo de algo que é a conseqüência natural da vida. "As pessoas acham hoje em dia que a morte é algo de perigoso, que traz medo, e que deve estar longe delas. Ninguém sabe mais como se morre", explica.

Lakotta até cita um caso concreto. "Um médico me contou que acompanhava o falecimento de uma idosa e percebeu o transtorno que isso causava nos seus oito filhos. Ele percebeu que nenhum deles tinha visto na vida alguém morrer."

A jornalista revela também que, apesar de um receio inicial, não teve dificuldade para convencer os doentes a posar para seu marido e contar-lhe suas histórias. "Depois da surpresa inicial, a maioria se oferecia sem problemas. Eles até ficavam aliviados de poder falar sobre o que é estar morrendo, algo que ninguém das suas famílias estava preparado para escutar."

swissinfo, Alexander Thoele

Empresa transforma defunto em diamante

No Dia de Finados milhões de pessoas peregrinam aos cemitérios para visitar amigos e familiares. Porém existe uma outra forma de homenagear os mortos: transformando-os em diamante.

Uma empresa suíça utiliza máquinas especiais para comprimir cinzas mortuárias em pedras azuladas. A procura cresce em toda a Europa.

O vovô no anel, a tia pendurada na orelha e o cãozinho no chaveiro: todos transformados em diamante depois que suas cinzas foram prensadas em máquinas especiais.

Assim os restos mortais de entes queridos podem ser carregados para qualquer lugar como jóias, ao invés de serem depositados em urnas que ninguém gostar de ver na prateleira ou espalhados ao ar livre em cerimônias tristes.

O que parece ficção científica já ocorre na realidade através dos serviços oferecidos pela Algordanza, uma empresa sediada em Chur, cidade localizada na parte leste da Suíça. Seus fundadores são dois jovens empresários, Rinaldo Willy e Veit Brimer, com respectivamente 26 e 40 anos.

- Tudo não fica mais caro do que um enterro – reforça Willy as qualidades do produto.

Diamantes de meio quilate custam a partir de 3.500 euros. Já as peças de um quilate podem sair por até 10 mil euros. Porém o preço pode subir caso as pedras sejam trabalhadas em jóias de ouro ou prata.

Processo químico

O que parece um negócio macabro é na realidade apenas o aproveitamento comercial de uma realidade biológica: seres humanos têm na sua composição química uma percentagem de carbono. No interior da terra esse elemento passa por um processo que chega a durar milhões de anos antes de se transformar em diamante.

A idéia da Algordanza é acelerar essas etapas através do uso de alta tecnologia. Nos laboratórios da empresa compressores especiais do tamanho de pequenas geladeiras utilizam a pressão de 50 mil bar e o calor de 1.200 graus centígrados para comprimir as cinzas de uma pessoa. Dessa forma a estrutura molecular do carbono é modificada e ele se transforma em diamante.

- Dependendo do tamanho da pedra e das características das cinzas, o processo pode durar entre cinco e doze semanas – explica o empresário.

A máquina necessita entre cinco a doze semanas para criar um diamante.
A máquina necessita entre cinco a doze semanas para criar um diamante. (Algordanza)

Peças únicas

Ao contrário dos concorrentes americanos da empresa Life-Gem, que desde 2001 oferecem o método misturando carbono na fabricação dos diamantes, a Algordanza utiliza "apenas as cinzas mortuárias".

Cada produto final tem uma cor diferente, que varia entre o azul claro até o azul escuro.

- Isso se deve ao elemento químico Boro, que é ingerido pelo ser humano durante a sua vida. Assim cada diamante acaba tendo uma cor diferente, num tom único de azul. Por isso dizemos que não existe uma pedra igual à outra, assim como também não existe uma pessoa igual à outra.

Expansão no mercado

Os suíços já saíram do prejuízo desde meados de 2004 e estão cobrindo seus custos. A partir do ano que vem, eles pretendem expandir a empresa através da abertura de representações em toda a Europa. Atualmente a Algordanza recebe cerca de 40 pedidos por semana.

- Nosso objetivo é ser levado à sério como alternativa ao enterro. Muitas pessoas gostam da idéia de manter consigo uma lembrança do ente querido. Outros não gostam do ambiente de cemitérios e as tradições ligadas ao enterro - diz Willy.

A maior procura dos serviços da Algordanza vem do Japão e da Alemanha, onde os empresários mantém até mesmo uma filial. A razão é que as leis alemãs proíbem a utilização de cinzas mortuárias para outros fins, ao contrário da Suíça.

swissinfo, Alexander Thoele

A morte se expõe em Berna no dia de Finados

Alegoria do caráter transitório da vida , anônimo do século XVII (Museu de Belas Artes de Berna)
Legenda: Alegoria do caráter transitório da vida , anônimo do século XVII (Museu de Belas Artes de Berna) ()

A morte e a violência são onipresentes na mídia mas a sociedade evita o contato direto com a morte. É o que mostra o Museu de Belas Artes de Berna, com a exposição «Seis pés abaixo da terra».

São caveiras, esqueletos e túmulos da época antiga ou provocações de nosso tempo: ao violar esse tabu, o museu previne os visitantes que certas obras podem chocar.

"O desafio desta exposição era encontrar a melhor maneira de falar de nossa relação com a morte em uma sociedade que prefere evacuar a idéia da mortalidade", afirma a swissinfo Bernhard Fischer, um dos curadores da exposição.

Aliás, nenhum dos patrocinadores tradicionais da cultura - os grandes bancos, seguradoras ou fundações - aceitou financiar a exposição que contou com o apoio da fundação GegenwART.

" Não gostamos dos mortos, menos em um contexto estético. Nada queremos com o moribundos. "
Thomas H. Macho, "Metáforas sobre a morte"

Cadáveres e esqueletos

De uma garande riqueza, com obras dos cinco continentes e de todas as épocas, a exposição é dividida em seis capítulos temáticos.

Intitulado "Cadáveres, caveiras e esqueletos", o primeiro capítulo trata da morte da carne, que desaparece rapidamente, e do que pode se conservar durante séculos ou mesmo milênios (os ossos).

Artistas como Andres Serrano ou Jean-Frédéric Schnyder quiseram colocar o visitante frente a uma imagem que ele quer refutar mas que exerce, paradoxalmente, uma fascinação mórbida: o corpo humano sem vida e descomposto.

Luto e rituais

O segundo capítulo da exposição, "Caixões, túmulos e lágrimas" é dedicado aos rituais funerários.

Em todas as civilizações, os mortos são alvo de rituais complexos - em geral religiosos - que se encerram com o enterro, a incineração ou depositados no fundo do mar. O caixão torna-se uma nova pele do corpo, o túmulo sua nova casa e o cemitério sua nova cidade.

O quadro «Kinderbegräbnis», de Albert Anker (1831-1910), célebre pintor da vida cotidiana suíça de sua época, reflete a linguagem corporal de parentes em luto. Há ainda caixões de artistas ganenses criados especialmente para a ocasião.

Izima Kaoru: Igawa Horuka vestida de Dolce&Gabbana. (Musu de Belas Artes de Berna)
Izima Kaoru: Igawa Horuka vestida de Dolce&Gabbana. (Musu de Belas Artes de Berna) ()

Os póximos desaparecidos

As obras expostas no capítulo intitulado "Homenagens e mortos adorados e adulados" representam os mortos que próximos de artistas.

O fato que estes falem voluntariamente de sua relação com a morte cria ao criar o perfil de um próximo que faleceu é, na realidade, uma conseqüência tardia da secularização provocada pela Revolução Francesa, forçando o indivíduo a buscar ele próprio uma resposta para as questões existenciais.

Os organizadores da exposição estimam, por exemplo, que as representações da Pietà sem dúvida serviram de modelo a essas homenagens individulizadas. Como o retrato pintado por Claude Monet de sua mulher falecida.

"A morte do artista" (4° capítulo) é, na origem, um tema romântico do século XIX por excelência. Um exemplo é o desenho de Ferdinand von Rayski, «Suicídio do artista em seu ateliê», evoca a natureza radical do suicídio.

Um modo de vida

Em seguida, "Morte e eslilo de vida" alude ao espírito neo-romântico e à nostalgia da morte, que caracterizava o movimento artístico dos anos 80. Era um movimento que queria uma resposta ao "punk" e ressuscitar o desejo da morte tal como existira no romantismo e no simbolismo.

O último capítulo, "A vida após a morte", ilustra as diversas maneiras em que os artistas concebem o "outro lado". A morte é o fim definitivo da existência física, mas talvez seja uma etapa transitória que leve a outras formas de existência.

Os artistas que se dedicaram à questão criaram diversas formas de paraíso, um mundo dos mortos-vivos e dos que voltaram. Ou então desenvolveram conceitos que fazem da morte um evento cíclico como a própria vida.

swissinfo com agências

Uma agência funerária para muçulmanos

Esse empresário não conhece feriados ou semanas de cinco dias de trabalho. Ele está sempre à disposição de seus clientes.

Ali Furat, de Zurique, é dono de uma agência funerária especializada no translado de muçulmanos às suas pátrias distantes.

A agência funerária Furat International Repatriation fica em um bloco residencial anônimo no bairro industrial de Regensdorf, pequena comuna nas proximidades de Zurique. O espaçoso escritório está mal iluminado e dá uma impressão de frieza. Várias pastas estão dispostas cuidadosamente nas estantes, nos quais ficam arquivadas as fichas dos falecidos. São cerca de 400 casos por ano.

Um gigantesco mapa do globo está pregado logo acima da estante. Pregos coloridos marcam cidades como Atena, Lima ou Antalya. Em todas elas a empresa de Furat tem parceiros. Desde que a fundou há doze anos, seu negócio cresceu tanto graças à propaganda boca-a-boca que ele nem mais se dá o trabalho de fixar novos pregos. Nesse meio tempo, essa rede se estende por todos os continentes do mundo.

Temporada

Agora é "alta temporada" para Ali Furat. Afinal, no outono e no inverno é que morrem mais pessoas. "Muitas pessoas idosas e doentes têm pouca força e não sobrevivem o inverno. Também esses meses são os mais sombrios e desesperançados", declara o empresário turco de 47 anos, que já é casado há 21 anos com uma suíça.

Há muitos anos, quando presidia um fundo de enterro para turcos, ele sempre foi abordado por muçulmanos de outras nacionalidades à procura de conselhos. Ele os ajudava nos procedimentos burocráticos quando um de seus familiares falecia.

Daí surgiu, em 1997, a idéia de abrir um novo negócio. "Eu só entrei nessa profissão por acaso e agora não sei mais como sair dela", explica, lembrando que gosta muito do seu trabalho apesar dos horários de trabalho irregulares e da forte pressão.

"Tenho uma certa satisfação quando ajudo pessoas que estão passando por horas difíceis. Por exemplo, se uma mulher perde no meio da noite seu marido, primeiro vem o luto, depois o estresse e o pânico. Como fazer para levar o corpo do falecido a uma aldeia distante na Anatólia?"

Furat, que domina perfeitamente turco, inglês, alemão e um pouco de árabe, pode nesses momentos ajudar, sobretudo graças aos seus quatro funcionários. Sua empresa assume a lavagem tradicional, troca as roupas e resolve todas as formalidades relativas ao translado do defunto. "Nessas situações, as pessoas estão sobrecarregadas e para nós é apenas uma rotina."

Não apenas muçulmanos

Furat repatria muçulmanos falecidos de todas as partes da Suíça , mas não apenas isso: "Também já levamos um judeu para a Turquia, uma mulher mórmon para a Espanha e, na última semana, um católico para o Kosovo". Sua agência funerária especializou-se em muçulmanos, mas nenhum cliente é recusado por causa da religião.

Ela também organiza a "última viagem" para os suíços que faleceram no exterior. Neste caso, Furat trabalha estreitamente com as companhias de seguro, o Ministério das Relações Exteriores e as representações diplomáticas. "Nós temos bastante translados para a Suíça durante o verão, que é época de férias aqui."

O grande vazio

Apesar da rotina e da distância profissional, alcançada depois de anos de trabalho no setor, viver o luto ainda é um problema para Furat. "Eu faço um trabalho triste. Para muitos, a morte é o final, não sobra mais nada. Outros acreditam em um reencontro depois dela. Mas nós não sabemos o que vem."

O empresário fica muito tocado quando pessoas idosas, que já passaram uma vida inteira juntos, perdem seus parceiros ou parceiras. "Nós vemos nas casas deles as fotos do casamento, quando eram jovens e felizes. Depois eles ficam tanto tempo juntos. Quando um morre repentinamente, o outro se sente abandonado, perdido. Viver isso é, para mim, algo muito triste".

Também o luto se vai

Para ele, pior do que isso só quando uma mãe perde seu filho, não importando a sua idade. Furat não se esquece mais de um caso vivido no Inselspital, o maior hospital de Berna. Lá um homem de 72 anos havia falecido. No leito mortuário estava uma senhora muito idosa, que permanentemente acariciava seus cabelos, falava e chorava. "A senhora, de 94 anos, havia acabado de perder seu filho."

Apesar da rotina, o empresário não consegue se acostumar a essas situações. Se possível, ele tenta até evitá-las. "Para isso, preciso de um coração de pedra." E apesar disso, assim como ele aprendeu a aceitar a morte, também o luto e a perda de um ente pertencem ao ciclo da vida. Mesmo esses sentimentos passam com o tempo.

"Permaneço em Zurique"

Segundo Furat, a maioria quer ser enterrada nos locais onde vivem suas famílias e onde passaram suas infâncias. Ele conhece muitos turcos que chegaram como trabalhadores na Suíça nos anos 60 e que desejam ser enterrados na sua própria pátria.

Ele já prefere ser enterrado aqui, em Zurique-Witikon, no setor muçulmano do cemitério local. Sua esposa e seus dois filhos vivem na Suíça. "Eu não quero levar para a minha família na Turquia a dor e o luto", reflete.

swissinfo, Gaby Ochsenbein

Cinzas mortais podem ser dispersas ao ar livre

Um túmulo atrás dos muros do cemitério não agrada a todos. Na Suíça, parentes de um falecido podem jogar suas cinzas nas florestas, nos lagos e nos rios.

A demanda por esse tipo incomum de cerimônia fúnebre aumenta, sobretudo da Alemanha, onde é obrigatório o enterro em cemitério.

Uma floresta da "paz" é bem diferente de um cemitério. "Em geral trata-se de uma clareira na floresta, que parece estar mais ordenada do que o espaço que a cerca", esclarece Beat Rölli da agência fúnebre "Letzte Ruhe GmbH" (n.r.: Último Descanso), especializada em enterros naturais.

Ela oferece cerimônias fúnebres nos cantões de Berna (Kräiligen, Ranflühberg e Seeberg), Lucerna (Luthern Bad) e Solothurn (Steinhof). "A floresta não pode ser modificada, o que explica a ausência de cruzes, indicações ou mesmo placas com nomes de pessoas", diz Rölli.

Na Suíça existe uma política liberal na questão dos enterros. Há dez anos é permitido aos parentes de um falecido levar a urna com os restos mortais para casa. As cinzas obtidas com a cremação podem ser enterradas no jardim, dispersas nos rios, lagos, florestas e até mesmo num campo aberto.

Quem não deseja fazê-lo só, pode pedir o auxílio de uma das várias agências fúnebres especializadas em enterros "naturais". "Isso costuma ocorrer com pessoas idosas, quando um dos cônjuges falece e nenhum parente está disponível ou existe", explica Rölli.

Interesse da Alemanha

Uma grande parte da clientela vem da Alemanha. No caso da "Letzte Ruhe GmbH", estes seriam 90%, todos da Alemanha. No país vizinho existe a obrigatoriedade do cemitério. Cerimônias fúnebres ao ar livre estão proibidas. Além disso, a urna não pode ser entregue aos familiares depois da cremação do falecido.

Por essa razão, Rölli trabalha em cooperação com uma agência funerária em Berlim. "Eles recolhem os corpos em todo o território da Alemanha e os levam para o crematório. Uma vez por mês eles vêm com as urnas para os enterros "naturais" aqui na Suíça".

Cidadãos dos países da União Européia, como Alemanha e Áustria, devem assinar uma carta de intenções para os enterros naturais e enviá-la às agências no país de origem e também às agências na Suíça. Estas últimas podem então fazer o pedido de recepção das urnas.

"Às vezes, elas são acompanhadas pelos familiares, mas em 80% dos casos não vêm ninguém. A urna nos é então entregue para o funeral pelo correio ou por um transporte comum", acrescenta Rölli.

A empresa alemã "Oase der Ewigkeit" (n.r.: Oásis da Eternidade) faz propaganda na internet para "cerimônias fúnebres nas montanhas suíças". No país dos Alpes, existem várias agências especializadas em funerais ao ar livre. Uma delas, a Friedwald, localizada no povoado de Mammern, no cantão da Turgóvia, tem cerca de 60 diferentes locais para esse tipo de funeral. Outras têm nomes sugestivos como "Ewiges Alpenglühn" (n.r.: Brilho Eterno dos Alpes) ou "Funerais naturais Funebris".

Agências barateiras

Na nossa sociedade a morte é considerada um tabu, que deve ser muito mais evitada do que preparada. As pessoas temem falar nela. Profissionais do ramo não podem se dar a esse luxo. Para Rölli, a morte faz parte do seu cotidiano de trabalho.

"Nosso parceiro em Berlim é uma dessas agências barateiras", explica. "Para pessoas que não têm um poder aquisitivo muito alto, ele oferece alternativas para os preços normais. Temos uma lista com os nomes e podemos, dessa forma, ver o que as pessoas encomendaram e quanto elas pagaram".

Espalhar as cinzas no Matterhorn

Os preços para um funeral ao ar livre oscilam entre 150 francos – uma cerimônia simples e anônima – até cinco mil francos – para uma cerimônia ao lado de uma árvore de uma floresta especial. Nelas existem também variações como árvores para até seis pessoas, árvores familiares, árvores de parceria e individuais.

Os cuidados com o "túmulo" são entregues à natureza. Rölli arrendou por 90 anos o pedaço de floresta onde ele organiza suas cerimônias.

Além disso, existem formas incomuns de funerais ao ar livre além da cerimônia feita ao lado de uma árvore. As cinzas podem ser jogadas de um balão ou helicóptero no céu. "Já recebemos pedidos de japoneses, que gostariam de ter suas cinzas mortais distribuídas em cima da montanha Matterhorn. Porém, isso é muito caro, pois temos de pagar por cada minuto de vôo", diz Beat Rölli.

swissinfo, Susanne Schanda

Uma loja que só faz caixão por encomenda

  • Os fregueses podem escolher entre caixões chamativos ou uma criação própria.
    Os fregueses podem escolher entre caixões chamativos ou uma criação própria. (swissinfo)
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Por Jessica Dacey, swissinfo.ch


Dentro de uma loja cor-de-rosa, projetos para a construção de dois caixões: um na forma de um violão, outro com um espelho retrovisor.

Um freguês quer ser capaz de "olhar para trás em sua vida". O outro é um músico que quer ser enterrado no seu instrumento favorito.

Esses são dois dos pedidos mais exóticos feitos ao Ateliê Sarg, uma pequena fábrica de caixões criada em 2009 às margens do rio Aare, em Thun.

Entrar na loja da fábrica é uma verdadeira viajem para o além… da imaginação. Ali se encontra o mundo de Alice Hofer, a proprietária do estabelecimento. Vestida de cor-de-rosa da cabeça aos pés, ela dá o ton de como deve ser a vida depois da morte: tudo ali é cor-de-rosa, a loja e até os caixões.

Silêncio e recolhimento é o que se espera encontrar normalmente em uma casa funerária. Em vez disso, um fundo de música ambiente, algumas velas acesas e cafezinho é servido na acolhedora sala de estar. A sala de recepção é cor-de-rosa e está repleta de livros de filósofos persas, cartões e CDs do marido de Alice, Polo Hofer, uma estrela do rock suíço.

"A morte e o que vem após a vida sempre foram questões importantes na minha vida. Eu sou realmente fascinada pelo assunto desde muito jovem. Sempre tive interesse pelo além, então me pareceu bastante lógico que também ganhe minha vida com a morte", diz Alice enquanto toma seu cafezinho.

"Eu realmente senti um forte impulso em criar um espaço apropriado onde as pessoas pudessem vir falar, chorar, rir e lidar de qualquer maneira com o assunto".

Alice Hofer
Alice Hofer (swissinfo)

Impressão duradoura

Alice Hofer lembra de ficar pensando na morte já na infância, na época do outono.

"Eu me lembro de andar pela floresta e ficar perguntando onde é que as folhas vão depois que caem das árvores. E da beleza que há neste caminho em direção a morte. Achei então que se a natureza nos mostra um espetáculo tão bonito sobre a vida e a morte, talvez seja para que possamos aprender alguma coisa com ela, quem sabe talvez devêssemos seguir nosso caminho em paz. Essa é a minha maior motivação".

Assim, sua empresa está lá para ajudar as pessoas a escolher um caixão e começar a pensar sobre os preparativos para o funeral. Os clientes são convidados a preencher um guia para "organizar a minha despedida terrena", que envolve grandes decisões, tais como se deve ser cremado ou enterrado, e as menores, do tipo que música vai ser tocada no funeral.

"Eu encorajo as pessoas a se familiarizar com as suas próprias necessidades. Por exemplo, como gostariam de ser apresentadas neste último instante", disse Alice.

"Existem muitas coisas que desaparecem à medida que vamos atravessando a vida. Mas a impressão que temos de uma pessoa deitada em um caixão, isso nunca vai desaparecer. Essa memória vai ficar para sempre conosco".

Do mesmo jeito que anuncia caixões de todas as formas, ela também vende outros que são decorados por fora e custam cerca de 2.500 dólares. Uma paleta de várias cores e vários temas para os caixões, como, um vermelho com a cruz suíça, ou outro coberto de grama artificial e florzinhas edelweiss– alusão à expressão “comer a grama pela raiz", que significa morrer.

O negócio dela atrai críticas, Alice admite: "As pessoas dizem que é estranho, louco e antipático. Mas é claro que eu não presto muita atenção a esses tipos de comentários, porque estou tão convencida do que faço e de que isso é necessário para muita gente".

Símbolo de status

Uma busca na internet para caixões decorativos na Suíça traz poucos resultados; o mais comum são as ofertas de construções “eco-friendly”, feitas com outros materiais além da madeira.

De acordo com “J. Voeffray & Fils”, uma casa funerária em Sion (sudoeste), caixões decorativos são muito raros na Suíça, mas isso pode virar moda. “Essas coisas acontecem em ciclos", disse o representante da casa, Cedric Voeffray.

A ligação com a profissão da pessoa, como o músico suíço que espera seu caixão em forma de guitarra, é comum em Gana. Na capital ganesa, Accra, conhecida por seus caixões esculturais, um pescador normalmente será enterrado em um caixão em forma de peixe, uma mãe em um em forma de galinha e um agricultor em um em forma de cacau.

É uma tradição na maioria das cidades da tribo Ga, que vê a morte não como um momento de lamentação, mas de celebração da vida, com cores berrantes nos caixões e formatos que lembrem a vida, o trabalho ou status social do falecido.

Ao iniciar o seu negócio, Alice Hofer foi inspirada pela abordagem da morte que ela viu no México.

“Eles são muito abertos para a combinação morte-beleza. Para eles, parece ser um aspecto da vida e em nossa cultura parece ser o fim da vida", disse.

"Eu tentei basicamente integrar todos estes aspectos no aqui e agora. Tenho certeza de que não é apenas uma tendência, é uma maneira nova e importante de olhar a vida e a morte ".

Alice, obviamente, já tem planejada a sua própria partida. Mas não haverá nenhum caixão ou urna. Em vez disso, suas cinzas serão "sopradas ao vento".

Jessica Dacey, swissinfo.ch
(Adaptação: Fernando Hirschy)

Um caixão para ser usado em vida

Werner Locher ao lado do seu armário-caixão em uma feira de Berna.
Legenda: Werner Locher ao lado do seu armário-caixão em uma feira de Berna. (Wolf Röcken, Berner Zeitung)
Por Alexander Thoele, swissinfo.ch


Ele parece uma vitrine com design moderno para a sala de estar. Mas na verdade, trata-se de um caixão para defuntos.

O ataúde-armário é a mais recente ideia de um ex-agente funerário, que acaba de apresentá-lo em uma feira agropecuária de Berna.

A BEA/Pferd, a tradicional feira anual de agropecuária de Berna, não era exatamente o local onde Werner Locher pensava em exibir a sua mais recente invenção. Porém, depois que esse marceneiro e ex-agente funerário originário de Uetendorf, um pequeno vilarejo ao sul de Berna, só recebeu duas respostas aos 500 convites de apresentação enviados às funerárias regionais, ele achou que era necessário um golpe de publicidade.

"Decidi alugar um estande aqui na feira, pois ela é bastante popular, e não me arrependi", conta Werner, exibindo ao mesmo tempo recortes de artigos em jornais, publicados recentemente, onde aparecem fotos suas ao lado do caixão-armário. "A reação da maioria dos visitantes é muito positiva", reforça.

Seu estande não é o maior do pavilhão, mas pelo número de pessoas que param para conversar com ele ou simplesmente admirar é, seguramente, o que mais chama atenção. Não é à toa: ao contrário dos vizinhos com seus móveis de luxo, o marceneiro exibe um novo tipo de caixão. Ao invés dos modelos tradicionais, quadrados, pesados, com alças e parafusos laqueados, o "Cradle" (berço, em inglês) é cônico, sóbrio, sem garras ou outros detalhes.

O suíço batizou-o de "berço". Ao primeiro olhar, uma peça minimalista em madeira como nos catálogos dos fabricantes suecos. A escolha do nome não foi difícil. "Quando chegamos ao mundo somos colocados no berço e, quando partimos, também". Como não tem alças para carregar a peça no cemitério, os familiares precisam utilizar cordas. Na extremidade do caixão, um pequeno furo e o espaço do único parafuso. Graças aos encaixes, como na tampa de um aparelho eletrônico, o caixão é fechado e se transforma em uma peça única.

Obra-prima do marceneiro: um dos modelos de caixão cilíndrico em carvalho laqueado.
Obra-prima do marceneiro: um dos modelos de caixão cilíndrico em carvalho laqueado. (locher-saerge.ch)
Zoom

Inspiração na morte do pai 

Outro detalhe especial do caixão "Cradle" é que ele pode ser utilizado também em vida como armário de louças. Nele, as prateleiras de vidro são fixadas no caixão por pequenos pinos. No alto, uma lâmpada ilumina os objetos expostos como copos de vinho, que podem ser admirados pela abertura frontal na tampa. Quando o proprietário morre, as prateleiras podem ser retiradas e também a pequena vitrine. "Então colocamos nela uma tampa de madeira fornecida por mim, pois os cemitérios suíços não permitem que os caixões contenham peças de vidro", explica Werner.

A inspiração para construir esse novo tipo de móvel surgiu quando seu pai faleceu, em abril do ano passado. "Eu olhei seu caixão e não o achei muito bonito. Então pensei como seria construir um que fosse mais estético", revela o marceneiro. A dificuldade inicial era conseguir colar as diferentes camadas de madeira para que o caixão ganhasse esse formato incomum. Porém depois de vários testes, ele conseguiu encontrar a combinação ideal de madeiras, já que um caixão não pode ser feito apenas de madeira nobre. "Depois de vinte anos o conteúdo dos túmulos precisa ser removido na Suíça. Um caixão de carvalho não iria se deteriorar."

Expansão internacional 

Os preços ainda são salgados: entre 2.700 e 3.500 francos (4 mil dólares), dependendo da qualidade da madeira ou do trabalho de acabamento. No estande Werner exibe um caixão pintado de azul com ilustrações celestiais. "É a escada para o céu", conta.

Em Berna a participação na feira já trouxe alguns resultados. "Dois pedidos foram feitos", conta orgulhoso o pequeno empresário. Além disso, várias pessoas pediram o cartão de visita. Porém seus planos estão mais voltados para o mercado externo. De 27 a 29 de maio em Dresden, Alemanha, Werner estará participando da Pieta, uma das maiores feiras de artigos fúnebres da Europa. E para evitar plágios, ele já registrou o "Cradle" no Departamento Federal de Patentes.

Alexander Thoele, swissinfo.ch

Enterros "naturais"

As práticas de enterro são regulamentadas pelo cantão (estado) ou comuna (município).

Diferentemente da Alemanha ou Áustria, na Suíça não existe a obrigatoriedade de realizar cerimônias fúnebres em cemitérios. Isso significa que os parentes da pessoa falecida podem levar para casa as urnas com as cinzes mortuárias depois da cremação.

Cidadãos europeus que desejam terem suas cinzas espalhadas na natureza na Suíça precisam preencher uma declaração de intenção e enviá-la à funerária no seu país e na Suíça.

Existem diversas formas de enterro "natural": as cinzas podem ser espalhadas no vento, sobre um campo verde, uma geleira, córrego, rio, lago, floresta ou ser até enterrado no pé de uma árvore.

Para os enterros naturais organizados de forma comercial é necessária uma autorização. As autoridades competentes são os órgãos cantonais de controle das florestas.

Negócios internacionais com enterro ao ar livre

Nem todas as pessoas gostariam de ser enterradas em cemitérios. Na Suíça é permitido espalhar cinzas mortuárias ao ar livre, sobre geleiras ou até florestas.

Graças à política liberal, empresas atuantes na área procuram clientes também na Alemanha.

"Se cidadãos da União Europeia manifestam o desejo de terem suas cinzas espalhadas na natureza, isso é possível através de uma declaração de intenções. Na Suíça não existe a obrigatoriedade de enterro em cemitérios. Portanto existe a liberdade de escolha", escreve o site da funerária suíça "Incandescência eterna nos Alpes".

Já a "Oásis da Eternidade" de Grevenbroich, vilarejo próximo à Düsseldorf (Alemanha) oferece cerimônias fúnebres em Beatenberg nos Alpes bernenses. "Na bela natureza dos Alpes suíços o senhor pode espalhar suas cinzas mortuárias ou dos seus familiares de uma forma natural. Trata-se de uma alternativa confiável e bonita em relação ao cemitério na Alemanha ou no mar".

Desde abril de 2001 a funerária alemã promove cerimônias fúnebres de dispersão de cinzas mortuárias em um terreno comprado por ela em Beatenberg, uma área de 15 mil metros coberta por florestas. As cinzas dos falecidos podem ser enterradas ao pé de uma árvore (1598 euros) ou espalhadas no terreno (324 euros). A maioria dos clientes é originada da Alemanha.

Segundo o chefe da empresa, Dietmar Kapelle, os negócios vão de vento em popa. "Nos primeiros dois meses organizados 60 cerimônias. No ano esperamos 125 cerimônias sem parentes e o mesmo número com o acompanhamento de familiares."

Para esse pequeno vilarejo de 1.200 habitantes localizado em uma montanha acima do lago de Thun, a ideia mostrou ser lucrativa. "Um hoteleiro de Beatenberg revelou durante a assembleia de moradores que o mês de maio, geralmente fraco, foi o melhor dos últimos dez anos", afirma Kapelle.

Turismo do enterro 

Segundo um artigo publicado no jornal bernense "Berner Zeitung", nem todas as pessoas estão felizes com esse novo modelo de negocio. Alguns já falam em "turismo do enterro" (n.r.: fazendo alusão ao chamado "turismo da morte").

"Essa palavra incomoda um pouco", critica Kapelle. "Porém a Suíça vive precisamente do turismo. E os familiares vêm naturalmente como turistas. Um ano depois eles retornam para visitar a avó falecida e permanecer uma ou duas semanas."

Protestos contra as cerimônias fúnebres ao ar livre ocorreram há alguns anos no cantão do Valais (sul da Suíça). Então, desde 1° de junho de 2009, foram proibidas aquelas agenciadas por empresas.

No cantão de Berna um cidadão alemão foi condenado em primeira instância por violar repetidamente a lei cantonal de florestas. Ele é acusado de ter enterrado nas florestas por várias vezes, como agencia fúnebre profissional, cinzas de pessoas falecidas sem as autorizações necessárias. O processo ainda não foi concluído.

Retorno à natureza 

Cerimônias fúnebres ao ar livre não são recentes na Suíça. As chamadas "florestas da paz" existem no país desde 1993. O suíço Ueli Sauter havia lançado a ideia de enterrar as cinzas mortuárias de uma pessoa próximo à raiz de uma árvore. Esta seria então uma espécie de lápide "viva", que não seria retirada como de costume após 25 anos, mas sim duraria 99. Uma árvore custa aproximadamente cinco mil francos.

A empresa "Floresta da Paz" registrou seu nome em toda a Europa. Ela é a maior empresa do setor na Suíça e possui, atualmente, 70 florestas. Outras estão em planejamento. Esse tipo de floresta já existe há dez anos também na Alemanha.

Na Alemanha, onde as cerimônias "naturais" eram até poucos anos proibidas pelas autoridades, ocorreu uma mudança de mentalidade. "A Conferência dos Bispos era absolutamente contra esse tipo de cerimônia. Hoje essas florestas são abençoadas. A Igreja se acostumou com a ideia. Em dez ou vinte anos haverão aqueles que dirão que foi sua ideia", declara Sauter, 70 anos.

Área pouco lucrativa 

Empresas "barateiras" originadas da Alemanha não estragam os negócios de Ueli Sauter. "Não sentimos concorrência". A "Floresta da Paz" na Suíça não realiza cerimônias com cinzas de estrangeiros. No máximo aqueles que vêm das áreas limítrofes como Constância. Também os negócios firmados no setor não são tão lucrativos como as pessoas imaginam, explica ainda o empresário.

Isso é confirmado por Werner Wilhelm, presidente da Associação Suíça de Funerárias. "A necessidade de terminar depois da morte próximo à natureza existe". Porém ele não percebeu nos últimos anos um crescimento da demanda por esse tipo incomum de cerimônia fúnebre. "As estatísticas mostram que são apenas dez por cento em relação às tradicionais."

Sabe-se que 75% das pessoas pedem a cremação. O que ocorre com as cinzas não é de conhecimento público, pois geralmente na Suíça elas são entregues aos familiares. Na Alemanha e na Áustria a prática é diferente: nesses países as urnas ficam com as funerárias.

Influência "zero" no meio ambiente 

Na Suíça as práticas fúnebres são regulamentadas pela comuna (município). As cerimônias comerciais de dispersão de cinzas em florestas são observadas pelos órgãos cantonais de controle das florestas. A base legal é a Lei federal das florestas de 1991, artigo 16.

"É necessário garantir que a floresta não sofra prejuízos", afirma o agente Walter Marti, responsável pelo setor 4 em Emmental (região localizada próximo à Berna). "A floresta precisa continuar desobstruída. Enterros não podem ser realizados. Nenhuma urna pode ser enterrada ou lápides, cruzes ou decorações mortuárias podem ser fixadas. Apenas uma placa de 10 centímetros por dez é permitida."

Inicialmente Marti tinha problemas com a ideia das cerimônias nas florestas. Hoje ele compreende que cada vez mais pessoas pensam da seguinte forma: "Por que olhar por trinta anos a um túmulo quando nosso pai ou mãe sempre se sentiu bem sobre esse banquinho na floresta?".

Até então não houve protestos por parte da população, quando há pouco foi autorizada a criação de uma "floresta da paz" em Sumiswald. "Nada ocorre à floresta. Se um coelho morre naturalmente, as consequências para a natureza são maiores do que se uma urna cheia pela metade é esvaziada nela."

Gaby Ochsenbein, swissinfo.ch
Adaptação: Alexander Thoele

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Mulher acorda no próprio velório, passa mal com o susto e morre minutos depois

Uma mulher morreu de infarto, em Kazan, na Rússia, causado pelo choque de acordar no meio do próprio velório. 
Fagilyu Mukhametzyanov, de 49 anos, foi declarada morta por engano e estava sendo velada por amigos e parentes quando se levantou do caixão e começou a gritar desesperadamente. 
Quando ouviu os amigos rezando, percebeu que estava no próprio velório e começou a passar mal.
Segundo Fagili Mukhametzyanov, marido de Fagilyu, a mulher começou a sentir fortes dores no peito e desmaiou quando chegou em casa. 
“Seus olhos tremiam e nós corremos para o hospital, mas ela só viveu por mais 12 minutos, na UTI, até morrer de novo”, contou Mukhametzyanov. “Estou com muita raiva e exijo respostas. Ela não estava morta da primeira vez e, por isso, os médicos podiam ter salvado sua vida”, completou.
O porta-voz do hospital de Kazan, Minsalih Sahapov, disse que está investigando o caso.
*Com informações do New York Daily News

Americano será exumado por ter sido enterrado com dentadura de outro homem

Uma confusão feita pelo hospital de Chattanooga, nos Estados Unidos, obrigou a exumação do corpo de um morador local que foi enterrado com a dentadura de outro homem. 
Segundo a porta-voz do Centro Médico Parkridge, Alison Counts, o corpo de Kenneth Ray Manis, de 76 anos, será exumado, pois a família notou que a dentadura que foi enterrada com o americano, na verdade, pertence a um paciente que dividia o mesmo quarto no hospital.
Manis foi enterrado no último dia 12 de junho e a dentadura foi um dos itens colocados dentro de seu caixão.
O hospital se desculpou pelo ocorrido e se comprometeu a pagar pelos custos da exumação e por uma dentadura nova. O real dono da dentadura não teve o nome divulgado.
*Com informações da AP

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Associação de funerárias recorre ao STF para atuar em Curitiba (PR)

Chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma Ação Cautelar (AC 2902) ajuizada pela Associação dos Estabelecimentos de Serviços Funerários dos Municípios da Região Metropolitana de Curitiba (PR). A entidade pede que o STF determine a subida do Recurso Extraordinário que questiona a proibição de empresas funerárias ligadas à associação atuarem na capital do Estado do Paraná.
A Associação informa que atua em todo o Estado do Paraná, com exceção de Curitiba, uma vez que lei municipal (Lei 12.756/2008) que disciplina o serviço funerário local limitou a atuação de empresas funerárias. O artigo 5º desta lei diz que “as empresas funerárias sediadas em outra localidade somente poderão executar o serviço funerário no município de Curitiba caso o óbito tenha ocorrido na cidade, mas a família faça a opção pelo sepultamento em outra cidade”. Ou seja, os serviços seriam prestados em Curitiba, mas o velório deveria ocorrer na cidade em que a empresa funerária atua.
A associação informa que “cerca de 80% dos serviços funerários com sepultamento na região metropolitana de Curitiba decorrem de óbitos ocorridos na capital, sendo que as famílias enlutadas buscavam as funerárias da região metropolitana para a realização dos serviços e como encontram capelas mortuárias com mais facilidade na capital, optam por velar seus parentes na capital, para depois sepultá-los em seus municípios de origem, o que vem sendo impedido de ser realizado”.
A entidade alega que o município editou lei “casuística”, com o objetivo único de descumprir decisões judiciais que haviam autorizado a atuação das suas associadas junto à capital do Paraná. Assim, recorreu ao Judiciário contra a lei, mas o Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) negou seguimento ao recurso especial e ao recurso extraordinário. Para a entidade, a decisão é “de todo equivocada” e, por isso, a concessão da liminar nesta ação cautelar se faz “imperiosa”.
A ação informa, ainda, que a atuação do município de Curitiba afronta a Constituição Federal em seus artigos 25, parágrafo terceiro; artigo 19, inciso III; e 170, ao não estimular a integração entre as regiões metropolitanas, bem como interfere na ordem econômica regional, criando distinção e preferências entre pessoas domiciliadas em Curitiba e pessoas domiciliadas em outros municípios para a realização de velórios.
Com esses argumentos, pede decisão cautelar para suspender a decisão que não permitiu a remessa de recurso extraordinário que questiona a constitucionalidade da lei municipal. Nesse sentido, pede também que a aplicabilidade da lei seja suspensa para que as empresas associadas possam voltar a realizar os serviços funerários em Curitiba.
A relatora desta ação é a ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha.
CM/CG

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Jornais de Finados do Cemiterio Parque Senhor do Bonfim

Veja todas as edições do Jornal Notícias do Bonfim.

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quarta-feira, 15 de junho de 2011

EUA: Funeral ganense traz festa com música, dança e bebidas

Diferentemente de ritual triste que lamenta a morte, cerimônia da comunidade de Gana em Nova York celebra vida dos que se foram.



Às 14h em um sábado, no Bronx, a pista de dança estava cheia, as bebidas estavam circulando e um grupo de mulheres jovens com cortes de cabelo modernos e sapatos de salto tinha acabado de chegar à porta, pronto para entrar na festa.

Poderia ter sido qualquer clube ou salão de festas – exceto pelas camisetas, pôsteres e CDs com a foto de uma mulher elegante e mais velha. A festa barulhenta era na verdade o funeral de Gertrude Manye Ikol, uma enfermeira de 65 anos de idade, de Gana, que havia morrido dois meses antes. A poucos quarteirões de distância, os convidados de outro memorial eram ainda mais barulhentos.



Foto: The New York Times
Parentes e amigos dançam em funeral de Hanah Yaa Appiah, no Bronx, Nova York

Os irlandeses podem ser conhecidos por seus funerais animados, mas os ganeses têm aperfeiçoado o funeral estilo festa. E em Nova York essas festas marcam o calendário social desta comunidade de imigrantes em rápido crescimento. Elas acontecem quase todo fim de semana em auditórios e salões sociais de igrejas em toda a cidade, duram a noite toda com open bar e música alta. Enquanto as famílias estão arrecadando dinheiro para cobrir as despesas de funeral, equipes de novos empresários – DJs, fotógrafos, cinegrafistas, garçons e seguranças – mantêm tudo em funcionamento em busca de seu próprio lucro.

Pode ou não haver um corpo presente ou um clérigo. A opinião expressa pode ser evangélica, católica ou secular. O falecido pode ter morrido em Nova York ou na África, alguns dias ou meses antes. Mas os funerais servem todos para o mesmo fim: festas para arrecadar dinheiro para as famílias em luto e reuniões noturnas para os enfermeiros, estudantes e taxistas de Gana que querem dançar e esquecer por um momento a vida de imigrante em Nova York.

"Para nós é uma celebração, mas para os americanos é um momento de tristeza", disse Manny Tamakloe, 27 anos, um mecânico de aeronaves, enquanto bebericava uma cerveja guinness no funeral de Ikol. "Se você é de Gana e chega aqui, vai ver 10 ou 12 pessoas que conhece e que vão apresentá-las a alguém. E antes que você perceba, você conhece todo mundo", disse. "Por que ir ao bar, quando você pode vir aqui e se divertir gratuitamente?”

Programa

Casamentos, batizados e aniversários são comemorados entusiasticamente entre aqueles nascidos em Gana, mas o funeral é mais. Quando Kojo Ampah, 34 anos, encontra-se sem planos para o fim de semana, ele liga seu vasto círculo de expatriados colegas a perguntar: "Ei, tem algum funeral?"



Foto: The New York Times
Kofi Sylvester Dwemoh, 4 anos, dança em funeral de 25 de março, no Bronx

Geralmente abertos a todos, os funerais tornaram-se maiores e mais frequentes nos últimos anos conforme a população de Gana aumentou na cidade de Nova York e se tornou mais entrosada, afirmam os líderes da comunidade. As últimas estimativas do censo mostram que existem cerca de 21 mil ganenses na cidade, principalmente no Bronx. Em 2005 haviam 14 mil.

As festas são ansiosamente aguardadas, promovidas com semanas de antecedência com as propagandas online – "Anote esta data. Neste dia celebrarei a vida da minha mãe", dizia um delas – ou panfletos que se acumulam nos restaurantes e lojas de mantimentos africanos. Os panfletos muitas vezes lembram cartazes de teatro, com fotos da família e amigos em luto, bem como créditos para o apresentador e a equipe técnica.

Um funeral frequentado carrega grande prestígio social – e a maior e melhor festa. Em uma noite de sexta-feira quando Tamakloe já tinha estado em dois, ele descreveu o seu próximo funeral, de um estranho no Bronx. "Todo mundo está dizendo que esse vai ser o melhor funeral do ano", disse ele.

O engenheiro Henry Boateng passou meses planejando para o sábado o funeral de seu pai, Albert Ernest Boateng, que morreu em julho, em Gana. Ao menos 300 pessoas foram convidadas.

As festas são uma importação direta de Gana, onde os funerais são conhecidos mundialmente pela sua dimensão e extravagância. Caixões lá muitas vezes lembram carros alegóricos de carnaval – o de um atleta pode ser moldado como uma bola de futebol, o de um pescador como uma canoa.

Em Gana, "o gasto mais importante que você vai ter na sua vida não vai ser o seu casamento, mas sim o seu funeral", disse Brian Larkin, um professor de antropologia da Faculdade Barnard que estuda a cultura do oeste africano. "As pessoas competem pela melhor festa ", continuou ele.

Desconhecido

Tal como em Gana, os convidados aos funerais em Nova York não precisam conhecer o falecido ou mesmo sua família. Mas eles devem prestar condolecências aos enlutados, dançar na pista de dança e doar de US$50 a US$100 – embora muitos não contribuam- para ajudar a levar o corpo de volta para a África ou cobrir outros custos. Uma grande festa pode arrecadar milhares de dólares.



Foto: The New York Times
Amigos e parentes em ritual para celebrar a vida de Gertrude Manye Ikol, nascida em Gana e morta aos 65 anos de idade

Na verdade, os funerais são o centro de uma economia vibrante. Henry Ayensu, dono da gráfica Cre8ive House, no Bronx, disse ter feito folhetos impressos para 12 funerais ganenses nos últimos dois meses, muito mais do que o habitual.

Fotógrafos são cruciais. Seis trabalharam no funeral de Ikol no dia 4 de março e cada um trouxe um laptop, uma impressora colorida e um assistente. Eles tiravam fotos dos presentes e as imprimiam in loco para vendê-las por US$ 10 a US$ 20 cada.

Os funerais tornaram-se tamanha fonte de dinheiro que os pretextos para que aconteçam às vezes são outros, disse Ampah. Um nova-iorquino, por exemplo, pode realizar uma festa para o marido da sobrinha de um primo que morreu em Gana, mesmo se os dois nunca se encontraram e parte do lucro for destinada para a família. Ampah disse que um taxista que conhece fez US$ 6 mil em um evento como esse. "As pessoas não ficam com raiva porque elas estão felizes de vir mostrar apoio e se divertir", disse ele.

Os funerais geralmente começam por volta das 22h, com as bênçãos religiosas, cerimônias e palestras em inglês e twi, uma língua de Gana. À meia-noite, tem início a dança. Até às 2h várias pessoas chegam, e o funeral está em pleno andamento. "Quando eles vão embora já são 5h – sempre", disse Carlos Rozano, um vigia que trabalhou em mais de uma dúzia de funerais de Gana.

Francis Insaidoo, um bioquímico que se mudou recentemente para New York, disse que os funerais o lembram que ele pertence a uma comunidade. "Parece que você não está sozinho", disse ele.

Ele não conhecia Ikol, mas seu colega sim. O colega, com uma lata de cerveja na mão, reconheceu com um dar de ombros que ele também não a conhecia. "Você vem pela festa", disse Insaidoo.

*Por Sam Dolnick

Belgas propõem dissolver cadáveres nas águas residuais

 
Belgas propõem dissolver cadáveres nas águas residuais

UE estuda a proposta mas opositores dizem que é de total mau gosto
Empresários da área funerária belga propuseram uma solução para lidar com os corpos das pessoas mortas que dizem ser muito mais barata e ecológica, noticiou o jornal britânico The Telegraph.
A alternativa ao enterro ou à cremação passa por dissolver os cadáveres numa solução cáustica e tratar o resultado como as águas residuais das cidades. Os restos do falecido iriam para o sistema de esgotos e depois processados em estações de tratamento de águas residuais locais.
A proposta está a ser estudada e, caso fosse aprovada, isso significaria que o procedimento poderia ser usado em toda a União Europeia. Nos Estados Unidos já há, segundo o mesmo diário, seis estados a usar essa técnica: Maine, Colorado, Florida, Minnesota, Oregón e Maryland.
Mas os opositores da ideia dizem que ela é de extremo mau gosto e que reflecte uma total falta de respeito para com o corpo do falecido, que é própria de uma novela negra ao estilo Frankenstein. As sondagens na Bélgica também acusam uma repugnância generalizada em relação a tal procedimento.

Funerária faz campanha bem humorada para planos funerais

Para atrair os consumidores para os produtos da funerária Angelus, de Porto Alegre, a C&R/Tambour Propaganda desenvolveu uma campanha diferenciada que utiliza uma linguagem bem humorada. Fugindo do tema morte como algo triste e “pesado”, a agência criou um filme que utiliza um pouco da história dos povos da antiguidade para mostrar como os consumidores podem planejar e adquirir um plano funeral.

Fonte: M&M Online

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Nova York proíbe enterros de humanos em cemitério de animais













Donos não podem mais ser enterrados com os bichos


Uma agência estatal determinou ao cemitério de animais de Nova York para parar de enterrar cinzas de donos ao lado das covas de seus amados gatos, cachorros e pássaros.

A decisão da Divisão de Cemitérios de Nova York ocorreu após um número cada vez maior de americanos decidirem dividir sua última morada com seus bichos de estimação. A nova regra já impediu pelo menos um enterro no cemitério de animais Hartsdale, considerado o mais antigo do país, com 115 anos.

A notícia deixou indignada Rhona Levy, uma moradora do Bronx, que havia planejado ter suas cinzas enterradas ao lado da cova dos seus cinco bichos, quatro deles já enterrados no local. “De repente, eu não tenho mais paz”, disse a americana de 61 anos, que acredita que a decisão pode ser revista. “Você quer estar com as pessoas mais próximas a você, as mais amadas. As únicas que eu tenho em minha vida agora são meus animais de estimação, que eu considero meus filhos.”

O professor de direito Taylor York disse que a decisão do estado agravou o sofrimento de sua família após a morte de seu tio Thomas Ryan, em abril.

A esposa dele, Bunny, e seus dois cachorros, BJ I e BJ II, foram enterrados em Hartsdale. Ryan desejava ser enterrado junto a eles, segundo York. Há ainda um espaço para BJ III, que ainda está vivo. Mas as cinzas do tio continuam guardadas na casa da irmã porque a nova regra não permite o enterro no cemitério de animais. “Minha mãe está completamente perturbada com isso. Ela chora cada vez que toca no assunto. Depois de ver seu irmão morrer, agora tem que lidar com essa insanidade?”, questiona o professor.

Segundo a Divisão de Cemitérios de Nova York, qualquer cemitério que ofereça enterros para pessoas deve ser operado como uma organização sem fins lucrativos. Ao fazer o serviço no local e cobrar uma taxa – US$ 235 para abrir uma nova cova e depositar as cinzas – o Hartsdale estava violando leis governamentais para organizações sem fins lucrativos.

Mas para o diretor do cemitério, Ed Martin Jr., o local é uma entidade privada e no próximo site da agência estatal diz que cemitérios privados não são submetidos à mesma jurisdição. "É ridículo que nós não possamos mais fazer [os enterros de humanos]", disse Martin. "Por enquanto, os enterros de pessoas estão suspensos, mas a nossa posição é de que eles não têm autorização para isso."

Localizado a 20 km de Manhattan, o cemitério tem cerca de 700 pessoas enterradas e 75 mil animais.

quinta-feira, 9 de junho de 2011