Familiares não foram avisados sobre venda de sepulturas, em Itirapina, SP.
MP e Prefeitura apuram os casos; prefeito diz que cemitério será ampliado.
Famílias de
Itirapina
(SP) denunciam que os ossos de parentes enterrados no cemitério da
cidade estão sendo retirados dos túmulos sem autorização. O local não
tem mais espaço para novas sepulturas e, segundo os moradores, a
Prefeitura está vendendo os locais para novos enterros. A reportagem do
Jornal da EPTV flagrou restos mortais sem identificação em uma capela. O
Ministério Público abriu inquérito para investigar os casos. O prefeito
Zé Maria (PMDB) disse que as denúncias serão analisadas e que o
cemitério será ampliado.
A dona de casa Luzia da Rocha e a filha Vilma da Rocha levaram um susto
quando foram visitar o túmulo onde a cunha foi enterrada em 2007. O
local estava com o nome de outra pessoa e, inconformada, Luzia procurou
o coveiro. “Falou que tinha sido vendido mesmo o tumulo e que a
responsabilidade era da prefeitura. Que ele recebeu ordem, veio um
fiscal da prefeitura, fotografou o tumulo e, em seguida, veio a ordem
para retirar os ossos dela”, disse.
Ossos são colocados em sacos de lixo sem
identificação (Foto: Felipe Lazzarotto/ EPTV)
O pagamento da sepultura chegou a ficar atrasado por quatro meses, mas
ela refinanciou a dívida e mostrou o carnê com as prestações. “Ele falou
que o problema não era com eles. O problema era com a Prefeitura e que
ele era funcionário e só recebia ordens”, afirmou.
Ossos em capela
Outra surpresa foi quando a família soube que os ossos foram trazidos
para uma capela no cemitério e colocados em sacos de lixo. Apenas um
saco estava identificado com o nome de uma pessoa. “Falaram: Deve ser
esse aqui. Não tinha nome, não tinha identidade, simplesmente jogados
ali dentro”, reclamou Vilma.
A reportagem da EPTV foi até a capela e o coveiro abriu o saco e
mostrou os ossos. “Como aqui não esta cabendo mais ninguém, não tem
espaço nenhum para abrir nenhuma sepultura, se lá não constar que está
pago, aí eles dão permissão para tirar”, disse o homem.
Como a gente vai saber quais são os ossos dela? Não tinha nome, não
tinha identidade, simplesmente jogados ali dentro. (...) É muito triste,
é muito desagradável o que a gente está passando"
Vilma da Rocha, dona de casa
“Como a gente vai saber quais são os ossos dela? Não tinha nome, não
tinha identidade, simplesmente jogados ali dentro. Por sinal nem sabe
qual destino vai ter. Ninguém soube responder para a gente o que vai
acontecer na verdade. É muito triste, é muito desagradável o que a gente
está passando”, lamentou Vilma.
A diarista Regina Célia da Silva enfrentou o mesmo problema e descobriu
que o túmulo da mãe foi vendido porque as prestações estavam atrasadas.
Os ossos também foram parar na capela do cemitério. Indignada, ela fez
uma denúncia ao MP de itirapina, que abriu.
“A sepultura era minha e eles não falaram nada, não avisaram. Eu acho
um descaso. A pessoa que mexe com isso, está mexendo com a morte, mas
também está mexendo com a vida de outras pessoas. Setembro faz 14 anos
que minha mãe morreu e eu não vou ter um lugar para levar uma flor,
fazer uma oração. Está chegando novembro, e como eu vou fazer?”,
questionou.
Para o advogado Guilherme Deriggi Goes, a prefeitura não deveria ter
revendido os túmulos. “Caso a pessoa tenha atrasado essas parcelas, esse
não é o meio mais viável para se cobrar o pagamento de uma dívida.
Deveria a prefeitura cobrar por execução fiscal ou através de penhoras
no nome da pessoa, penhora de bens, negativar o nome, mas jamais retirar
o túmulo de uma pessoa”, explicou.
Prefeitura
A reportagem foi à Prefeitura, mas a atendente disse que o prefeito
não estava na cidade. Por telefone, o prefeito disse que os dois casos
mostrados vão ser analisados. Ele informou ainda que já tem uma área, ao
lado do cemitério, pronta para ampliação, mas precisa concluir o
processo de licitação. O local terá capacidade para 450 túmulos, onde
poderão ser enterrados os restos mortais que foram retirados das
sepulturas.
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