Erro na identificação de cadáveres no cemitério da Póvoa de Santa Iria fez com que Maria José Colimão recebesse as cinzas da cremação de um corpo não reclamado e não as da sua filha Mónica, falecida em 2000. |
No dia 24 de Julho, Maria José devolveu a urna com as cinzas à Junta de Freguesia da Póvoa e Forte da Casa, que acusa agora de não lhe ter dado conta do sucedido. Este é apenas mais um momento triste dos últimos 20 dias que Maria José classifica como "horríveis". Foi uma amiga, Betina, que lhe ligou a dizer que tinha visto o caixão da sua filha ainda no cemitério, sete dias depois de Maria José ter levantado as ossadas e recebido a urna com as cinzas da cremação.
Na campa 737 do cemitério da Póvoa de Santa Iria, em Vila Franca de Xira, era onde deveria estar o corpo de Mónica, que morreu aos 20 anos, em Espanha, vítima de tumor cerebral. Mas no segundo levantamento das ossadas, a 10 de Julho, onde Maria José não esteve para evitar a comoção, o corpo que foi entregue para cremação foi o de um cadáver não reclamado, seguindo depois para o jazigo da família.
Três dias depois, a vizinha Betina, que foi levantar as ossadas da mãe, descobriu igualmente que o corpo da sua mãe não estava no local correcto e, ao abrir várias campas, à terceira reconheceu o caixão de zinco em que Mónica tinha sido sepultada. O coveiro confirmou que se tratavam dos restos mortais de uma jovem que tinha vindo de Espanha.
Passando a própria dor, Betina avisou os funcionários da junta. Dias depois, vendo que a junta de freguesia não avisou Maria José, telefonou-lhe a explicar o sucedido. Esta foi imediatamente pedir satisfações ao presidente da junta Jorge Ribeiro, pois já se sabia do erro há, pelo menos, sete dias e nada foi feito.
"Quanto a mim foi ocultação, se não é ocultação o que é? Eles tomaram conhecimento no dia 13 e esperaram até dia 20 para serem confrontados com isso. Atentaram contra a dignidade da minha filha que, mesmo depois de morta, não foi respeitada. Estou a reivindicar os meus direitos para que não haja mais Maria Josés e mais Mónicas. Vou agora entregar as cinzas do corpo que me foi entregue já cremado", explicou Maria José a O MIRANTE, à porta do cemitério.
Acabou por ser o cunhado, Pedro Silva, a fazer a entrega das cinzas a uma funcionária, pois Maria José não teve forças para o confronto. Mas promete ir até às últimas consequências. "Acho inconcebível e uma falta de respeito que a junta tenha demorado sete dias a dizer-me o que se passava. Era para entrarem imediatamente em contacto connosco, não para ter sabido por terceiros como soube. Tive de esperar duas horas pelo presidente e não receber qualquer pedido de desculpas. Foi de uma frieza indescritível", afirmou.
Maria José, de 66 anos, sente-se como num pesadelo, tendo de se forçar a ir reconhecer, no dia 22 de Julho, o corpo da filha para a voltar a enterrar, pois o cadáver ainda não podia ser cremado devido ao efeito retardante da quimioterapia. "Continuo a acordar a meio da noite e não consigo dormir, mas vou levar a minha luta até ao fim", desabafa.
A O MIRANTE, o presidente da Junta, Jorge Ribeiro, confirma que já decorre um inquérito. "Já tratámos do assunto com a família, tudo o que foi solicitado foi atendido e está, neste momento, a desenrolar-se um inquérito. Não tenho nada mais a dizer", afirmou. Entretanto, Maria José foi já ressarcida pela junta dos cerca de 200 euros que gastou com a cremação daquele que pensava ser o cadáver da sua filha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário