De que adianta tanto orgulho, egoísmo, maldades, veleidades,
preconceitos e vaidades, se lhe resta na eternidade só 7 palmos de
terra?
(Adágio Popular)
O geólogo paulista Leziro Marques da Silva tem observado que além da
contaminação causada por cadaveres, a má localização dos cemitérios e o
estado atual dos tumulos (má conservação) são complicadores gravíssimos.
A não decomposição dos corpos, através da ocorrencia natural de
fenomenos como a saponificação (o corpo não se decompõe e fica com
aspecto de sabão) nos locais de solo arenoso e bem drenado, vem a ser o
maior problema afeito à presente questão. Sem decompor convenientemente,
esses cadáveres se tornam empecilho à harmonia e equilíbrio ambiental,
pois não permitem a liberação do tumulo para reutilização, o que alarga e
complica em muito a oferta de áreas destinadas a cemitérios. Como cada
corpo ocupa cerca de 2,3 metros quadrados, com o tempo, a destinação dos
restos mortais vem a ser uma questão que ganha cada vez mais contornos
dramáticos nas grandes cidades. Fato deverasmente grave que muito tem a
ver com impactos ambientais diversos.
O interesse da matéria afeita ao controle ambiental de cemitérios por
parte do geólogo Leziro Marques da Silva, surgiu por conta da ausência
de transformações competentes sobre a interação dos corpos com o meio
ambiente, após a morte do cidadão e ou cidadã: “A medida legal diz o que
ocorre até a morte, mas depois não temos muitas informações”, cita o
geólogo paulista. A fim de identificar todo o processo de decomposição
dos cadaveres, a equipe de Silva observou visualmente durante três anos
todas as etapas de decomposição de um corpo. Através de um tumulo
constituí-do por paredes de vidro, os pesquisadores puderam levantar
ricos e laboriosos detalhes sobre o processo total de desitegração do
cadáver.
Através de estudos cientificos apropriados, o pesquisador desenvolveu
tecnologias visando acelerar o processo de decomposição e higienização
de túmulos e águas contaminadas pelos defuntos. Entre as opçôes mais
viaveis, elegeu-se o adicionamento de oxidantes, tais como o peróxido de
cálcio ou a cal virgem nas sepulturas. Esse procedimento aumenta o teor
de oxigênio, acelerando competentemente a decomposição. Como a maioria
das bactérias vem a ser anaeróbicas, ou seja, necessita de oxigênio para
sobreviver, o excesso do gás acaba matando os microrganismos. Outra
opção é a utilização de ácido piracético como desinfetante do solo do
cemitério o que também protege o lençol freático dos liquidos putrefos
do defunto.
Esses metodos, no entanto, são opções para os casos mais antigos de
decomposição. O ideal, segundo o geólogo Jamilo José Thomé Filho de
Goiás, vem a ser o respeito a critérios visando a competente e ideal
instalação dos cemitérios. Muito semelhantes aos adotados para a
localização de aterros sanitários na locação dos cemitérios devem ser
observados primordialmente a topografia do terreno, que precisa ser
plana; a geologia e o tipo do solo, que devem ser pouco permeável, como
também a distância mínima dos recursos hídricos, longe de áreas sujeitas
à inundação e distância mínima de 3 metros do lençol freático.
Thomé Filho, geólogo do Serviço Geológico Nacional de Goiânia, afirma
que essas normas podem variar de acordo com o manejo operacional do
cemitério. “O tratamento dos efluentes faz diminuir o risco de
contaminação”, diz o geólogo. Ele se refere também ao tipo de
sepulturas. Quando a urna com o corpo esta não deverá ser depositada
diretamente sob a terra; as chances de contaminação são bem maiores. O
ideal, segundo Thomé Filho, é a construção de túmulos com sistema de
drenagem do necrochorume, a fim de impedir a contaminação do solo pelo
líquido putrefo.
A vida é uma linda viagem cujo roteiro nós mesmos traçamos no dia a
dia. Aproveite cada momento desta viagem, pois a passagem é só de ida.
Nada levarás materialmente do plano físico, tanto quanto afora os bens
do espírito; nada trouxeste ao pousar nele. Ainda assim, não te
convidamos à ideia obcecante da morte e sempre a vida estará lhe
esperando noutra face. Desejamos tão somente destacar que nessa ou
naquela convicção ninguém deverá esquecer do porvir. Disse o Cristo:
“Andai enquanto tendes luz.” Isso quer dizer que é preciso aproveitar a
luz do mundo para fazer luz em nós e nos outros semelhantes. No final
será só poeira estelar; adubo que facilitará o vicejar de plantas e
outros organismos do reino mineral, vegetal e animal sempre
interdigitando-se em maravilhosa e rica interconectividade cosmica. Pra
que tanto orgulho e vicissitudes maléficas se caixão não tem gavetas? Ó
ingrato!! (adaptado de artigos publicados no DM; principalmente minha
série a “Venturosa Vida do meu Avatar”).
(João José, geólogo da Amazônia, cronista e articulista do DM)
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