quinta-feira, 7 de outubro de 2010

A Construção dos Cemitérios

A Igreja do Rosário no centro de Fortaleza, tem inumeros corpos sepultados no seu interior.
Até meados do Século XIX era costume enterrarem-se os mortos nas igrejas.

Para o saber médico-cientifico a decomposição dos cadáveres tornava os templos foco de doenças.
Assim para adequar a cidade às recomendações médicas, em 1848 foi edificado o primeiro cemitério público de Fortaleza, o São Casimiro, (em homenagem ao governador que autorizou a construção, Casimiro José de Morais Sarmento 1847 1848)  também chamado de Croatá, localizado no lado leste da atual Praça Castro Carrero.

Houve alguma resistência por parte dos segmentos religiosos em relação a medida, afinal o enterro nas igrejas era símbolo de status na verdade só eram enterradas nas igrejas as pessoas importantes, pois os humildes eram inumados pelo areal da cidade. 

Isso de certo modo continuou a ocorrer nos cemitérios , pois túmulos e mausoléus grandes e adornados com estátuas e esculturas passaram a ser erguidos, reafirmando o poder político ou econômico do falecido e de sua família.

Mesmo com a construção do cemitério a Igreja Católica conservou sua influência na “hora da morte”.
No São Casimiro havia uma área reservada e marginal para os que não professavam a fé católica ou atentassem contra os princípios desta (judeus, suicidas, etc).

Foi também construído um cemitério dos ingleses (para protestantes) vizinho ao São Casimiro, que era mantido pela firma de importação e exportação Singlehust & Co, de Henrich Brocklehurst.

Nos anos 1860 discutiu-se a necessidade de construir um novo cemitério, por diversos motivos: além de pequeno, o São Casimiro estava sendo soterrado pelas areia do Morro Croatá, estava muito próximo do perímetro urbano e por que lá estavam sepultados inúmeros coléricos.

Em 1866, mesmo inacabado, foi inaugurado o Cemitério São João Batista (seria concluído em 1880), para ali sendo lentamente removidos os mortos do Croatá.

O Cemitério dos Ingleses continuou a ser utilizado até ser demolido em 1880, para construção de armazéns e da estação da Estrada de Ferro Baturité. A partir daí foi destinada uma área nos fundos do São João Batista para sepultamento dos protestantes.

O São João Batista é um testemunho de que a divisão entre classes sociais que permeia a relação entre os vivos permanece na morte: da metade para frente estão os jazigos de classes dominantes, com peças sacras como anjos, colunas, crucifixos, além de jarros mausoléus e capelas feitas de mármore e granito importados da Europa; da metade para trás estão os falecidos de classes médias e populares.

E hoje...
Os cemitérios são empreendimentos capitalistas privados, acessíveis a qualquer um que possa pagar pelo serviço;
não existem restrições quanto à religião, nem à raça, nem à cor. Os jazigos são espaços homogêneos, uniformes, discretos, sem esculturas, nem capelas.
Tampouco tem nome de santo: é jardim, parque, bosque. Oferecem confortos como lanchonetes, restaurantes, sala de estar, espaço para eventos culturais, conexão com a internet, serviço de ambulatório, assistência médica e psicológica, capelas ecumênicas, e outras modernidades.