segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Poluição causada por defuntos… Cemitérios podem contaminar o solo e o lençol freático…

De que adianta tanto orgulho, egoísmo, maldades, veleidades, preconceitos e vaidades, se lhe resta na eternidade só 7 palmos de terra?
(Adágio Popular)
O geólogo paulista Leziro Marques da Silva tem observado que além da contaminação causada por cadaveres, a má localização dos cemitérios e o estado atual dos tumulos (má conservação) são complicadores gravíssimos. A não decomposição dos corpos, através da ocorrencia natural de fenomenos como a saponificação (o corpo não se decompõe e fica com aspecto de sabão) nos locais de solo arenoso e bem drenado, vem a ser o maior problema afeito à presente questão. Sem decompor convenientemente, esses cadáveres se tornam empecilho à harmonia e equilíbrio ambiental, pois não permitem a liberação do tumulo para reutilização, o que alarga e complica em muito a oferta de áreas destinadas a cemitérios. Como cada corpo ocupa cerca de 2,3 metros quadrados, com o tempo, a destinação dos restos mortais vem a ser uma questão que ganha cada vez mais contornos dramáticos nas grandes cidades. Fato deverasmente grave que muito tem a ver com impactos ambientais diversos.
O interesse da matéria afeita ao controle ambiental de cemitérios por parte do geólogo Leziro Marques da Silva, surgiu por conta da ausência de transformações competentes sobre a interação dos corpos com o meio ambiente, após a morte do cidadão e ou cidadã: “A medida legal diz o que ocorre até a morte, mas depois não temos muitas informações”, cita o geólogo paulista. A fim de identificar todo o processo de decomposição dos cadaveres, a equipe de Silva observou visualmente durante três anos todas as etapas de decomposição de um corpo. Através de um tumulo constituí-do por paredes de vidro, os pesquisadores puderam levantar ricos e laboriosos detalhes sobre o processo total de desitegração do cadáver.
Através de estudos cientificos apropriados, o pesquisador desenvolveu tecnologias visando acelerar o processo de decomposição e higienização de túmulos e águas contaminadas pelos defuntos. Entre as opçôes mais viaveis, elegeu-se o adicionamento de oxidantes, tais como o peróxido de cálcio ou a cal virgem nas sepulturas. Esse procedimento aumenta o teor de oxigênio, acelerando competentemente a decomposição. Como a maioria das bactérias vem a ser anaeróbicas, ou seja, necessita de oxigênio para sobreviver, o excesso do gás acaba matando os microrganismos. Outra opção é a utilização de ácido piracético como desinfetante do solo do cemitério o que também protege o lençol freático dos liquidos putrefos do defunto.
Esses metodos, no entanto, são opções para os casos mais antigos de decomposição. O ideal, segundo o geólogo Jamilo José Thomé Filho de Goiás, vem a ser o respeito a critérios visando a competente e ideal instalação dos cemitérios. Muito semelhantes aos adotados para a localização de aterros sanitários na locação dos cemitérios devem ser observados primordialmente a topografia do terreno, que precisa ser plana; a geologia e o tipo do solo, que devem ser pouco permeável, como também a distância mínima dos recursos hídricos, longe de áreas sujeitas à inundação e distância mínima de 3 metros do lençol freático.
Thomé Filho, geólogo do Serviço Geológico Nacional de Goiânia, afirma que essas normas podem variar de acordo com o manejo operacional do cemitério. “O tratamento dos efluentes faz diminuir o risco de contaminação”, diz o geólogo. Ele se refere também ao tipo de sepulturas. Quando a urna com o corpo esta não deverá ser depositada diretamente sob a terra; as chances de contaminação são bem maiores. O ideal, segundo Thomé Filho, é a construção de túmulos com sistema de drenagem do necrochorume, a fim de impedir a contaminação do solo pelo líquido putrefo.
A vida é uma linda viagem cujo roteiro nós mesmos traçamos no dia a dia. Aproveite cada momento desta viagem, pois a passagem é só de ida. Nada levarás materialmente do plano físico, tanto quanto afora os bens do espírito; nada trouxeste ao pousar nele. Ainda assim, não te convidamos à ideia obcecante da morte e sempre a vida estará lhe esperando noutra face. Desejamos tão somente destacar que nessa ou naquela convicção ninguém deverá esquecer do porvir. Disse o Cristo: “Andai enquanto tendes luz.” Isso quer dizer que é preciso aproveitar a luz do mundo para fazer luz em nós e nos outros semelhantes. No final será só poeira estelar; adubo que facilitará o vicejar de plantas e outros organismos do reino mineral, vegetal e animal sempre interdigitando-se em maravilhosa e rica interconectividade cosmica. Pra que tanto orgulho e vicissitudes maléficas se caixão não tem gavetas? Ó ingrato!! (adaptado de artigos publicados no DM; principalmente minha série a “Venturosa Vida do meu Avatar”).

(João José, geólogo da Amazônia, cronista e articulista do DM)