quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Vestida para morrer

Pesquisadora do MIT cria roupa para decompor cadáveres de forma ecológica

por Vanessa Vieira
Editora Globo
Toda trabalhada nos fungos: a artista Jae Rhim Lee veste seu traje funerário em uma palestra na conferência TED, em junho passado
Crédito: James Duncan Davidson/ divulgação
Mais de 200 poluentes tóxicos podem ser encontrados no corpo humano — muitos são absorvidos dos alimentos que comemos e objetos com que temos contato ao longo da vida (veja no quadro abaixo). Quando morremos e o cadáver se decompõe, essas toxinas se espalham na terra. Podem contaminar lençóis freáticos e causar problemas ambientais e de saúde pública.

Para evitar a poluição gerada por nossos restos mortais, a pesquisadora do programa de Artes, Cultura e Tecnologia do Massachusetts Institute of Technology, o MIT, Jae Rhim Lee, desenvolve em laboratório fungos que decompõem o corpo humano completamente, sem deixar toxinas. Sul-coreana radicada nos Estados Unidos, a pesquisadora cultiva cogumelos dos tipos ostra e shiitake e os alimenta com unhas e cabelos — de seu próprio corpo. Isso vai torná-los aptos a desintegrar o seu cadáver. “Os cogumelos têm potencial para usar os nutrientes dos tecidos humanos e limpar as toxinas industriais do solo”, diz. Decompositores por excelência, os fungos fazem esse trabalho sujo melhor do que vermes e minhocas.

Lee propõe que, num futuro próximo, os mortos sejam vestidos com um traje funerário especial, preparado com os fungos criados para decompor o que irá para debaixo da terra. Ela até já criou um protótipo. Confeccionado em algodão orgânico, é bordado com um fio tratado com esporos de fungos e um fluido embalsamador rico em nutrientes, que ajuda os cogumelos a se desenvolverem. Vestir a roupa para o próprio enterro, garante a artista, seria uma forma de amenizar nossos danos ambientais póstumos. Só não dá pra dizer que é bonito.
O QUE TE POLUI | Ao longo da vida, você absorve dos alimentos e objetos que usa diversas substâncias tóxicas. Conheça algumas.
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