sexta-feira, 3 de junho de 2011

Serviço funerário tem bufê, manobrista e segurança

Empresas ocupam antigos casarões e prestam serviços de velório para confortar os parentes e amigos dos mortos longe dos cemitérios


 

Foto: Alexandre Carvalho/FotoArena
Marta Alcione Pereira, da Funeral Home: serviço de sopa no velório da madrugada
Os donos de empresas funerárias têm sofisticado seus serviços como forma de atrair mais clientes. A novidade agora são as casarões para a realização de velórios, com serviços de bufê, segurança e manobristas.
“O que fazemos é amenizar o sofrimento, dar conforto para a família das pessoas que morrem”, afirma Marta Alcione Pereira, administradora da Funeral Home, em São Paulo. A empresa ocupa um casarão construído em 1928, que está em fase de tombamento nas imediações da avenida Paulista, na rua São Carlos do Pinhal.
Marta lembra que a casa foi aberta em 2008 como uma proposta inovadora, pela empresária Milena Romano, sócia do Cemitério Vale dos Pinheirais, localizado em Mauá, cidade da região do Grande ABC, e do plano funerário Plena Assistencial. “Somos pioneiros no Brasil”, afirma Marta.
Segundo a administradora, na casa há quatro salas para velórios, que podem ocorrer simultaneamente. Cada uma delas tem dois ou três ambientes. O serviço de chá e café pode ser incrementado com salgados ou até mesmo uma sopa servida na madrugada.
A casa conta ainda com serviço de manobristas e de seguranças. “Tiramos da família o trabalho de ir ao cemitério fazer a limpeza e o agendamento, e cuidamos do livro de condolências”, diz Marta, citando alguns serviços.
O aluguel de uma sala custa a partir de R$ 2.500 por dia. “Se a pessoa fizer um velório completo, com maquiagem, uma boa urna, aluguel da sala e flores para a decoração, irá gastar entre R$ 8 mil e R$ 12 mil”, exemplifica ela.
Nova casa
O empresário Haroldo Felício abriu sua casa para velórios em Belo Horizonte no último dia 30. A Funeral House também fica em um casarão antigo, mas neste caso já tombado pelo Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural. “Podemos fazer até três velórios ao mesmo tempo”, conta.

Foto: Washington Alves /FotoArena Ampliar
Haroldo Felício, da Funeral House: ¿É um retorno lento, mas o negócio é um complemento às outras atividades¿
Felício tem dois cemitério na cidade. Um deles, o Bosque da Esperança, é o terceiro maior do Brasil, com 500 mil metros quadrados de área. Só perde em tamanho para o de Vila Formosa, em São Paulo, e para o Campo da Esperança, em Brasília.
Ele tem também um crematório e uma empresa funerária. “Os investimentos na Funeral House foram de R$ 2 milhões”, calcula, lembrando que o retorno se dará em quatro a cinco anos. “É um retorno lento, mas o negócio é um complemento às outras atividades.”
O empresário, que é presidente do Sindicato dos Cemitérios e Crematórios Particulares do Brasil, descarta que seu investimento revele uma nova tendência. “É difícil falarmos em tendência. Quem tem sofisticado os serviços são os próprios cemitérios. Há um espaço para casas como a nossa, mas ele ainda é pequeno.”
Jayme Adissi, que está há 40 anos no ramo, depois de trocar um restaurante que tinha em Ipanema pelo investimento em um cemitério em Guarulhos, na Região Metropolitana de São Paulo, reforça a sofisticação das opções. “O setor está oferecendo mais serviços aos clientes”, diz. Em seus velórios, as famílias podem encomendar orquestras ao vivo e também serviço de bufê. “Vamos reformar as salas para colocarmos frigobar com água, chás e refrigerantes. É mais uma opção para as famílias.”
Paredes carmin
Além de dois cemitérios, Adissi tem um crematório e dois planos de assistência funerária com cerca de 60 mil segurados. “O cliente é o mesmo. O cemitério é a base de tudo.” O empresário conta que inovou quando abriu seu crematório, num dos cemitérios de Guarulhos, em 2004, o primeiro particular na região metropolitana. “Em todos os que conheço, a urna funerária desce. No nosso, ela sobe. A ideia é que está indo para perto de Deus”, afirma.
Segundo o empresário, que foi fundador do sindicato, o crematório foi desenhado pelo cenógrafo Cyro Del Nero, morto no ano passado, e que ficou conhecido por ter criado a abertura do Fantástico, da TV Globo, nos anos 1970, e a abertura de diversas novelas da emissora.
“Quando ele disse que iria pintar as paredes de carmim, pensei que estivesse ficando maluco”, lembra Adissi. E o próprio Del Nero deu a resposta: “É preciso colocarmos uma cor quente nas paredes, para acolher as pessoas”, afirmou, segundo o dono do crematório.
Em todos esses anos no setor, Adissi coleciona uma série de histórias. Uma delas, lembra, é a de uma antiga funcionária que, vira e mexe, quando entrava na sala dele dizia: “Desculpe, achei que você estivesse sozinho”. E ele: “Eu estava”, diz, rindo. Muitas dessas histórias estão no livro “Quem quer comprar um túmulo?”, de sua autoria, editado no final de 2010 pela Editora Urbana.

Jayme Adissi conta que o faturamento do seu grupo no ano passado chegou a R$ 18 milhões, com crescimento de quase 20% sobre 2009. “2010 foi um ano muito bom, apesar de termos crescido em todos os anos”, afirma. “O segmento todo tem tido expansão. Acho que isso se deve à melhoria da renda e do emprego da população”, diz o empresário.

Por fim, deixo meus bens para...

Testamentos podem preservar bens e evitar que longas disputas judiciais acabem com patrimônio familiar

Casado e pai de quatro filhos já adultos, Rodrigo*, um bem-sucedido empresário paulista, viu-se um dia envolvido em uma acalorada discussão após ter presenteado um dos quatro filhos com um carro de luxo. Diante dos questionamentos, reuniu os herdeiros: “Em vida, faço o que quiser com meu dinheiro. E, depois de morto, não haverá espaço para discussões. No meu testamento, já defini o que cada um deve herdar e a forma como vocês poderão dispor dos bens”, disse.

 
A afirmação, que foi suficiente para encerrar a disputa pelo carro entre os irmãos, não representou apenas um blefe do empresário. Ciente das discussões que poderiam ocorrer após sua morte, durante a partilha de bens, Rodrigo redigiu um testamento detalhado. “A ideia é evitar que desperdicem tempo e dinheiro brigando enquanto o patrimônio que levei uma vida para acumular perde seu valor”, afirma.
Administrar bens e recursos mesmo após a morte é uma das principais razões para se fazer um testamento, diz Luciane Vieira, sócia do escritório de advocacia Pinheiro Pedro. “O brasileiro normalmente evita discutir esse tema, pois acredita que isso acaba atraindo coisas ruins. Mas, toda pessoa que dispõe de patrimônio deveria pensar a respeito da organização de seus bens, sobretudo se há o desejo de resguardar o futuro de alguma pessoa da família”, afirma.
O Código Civil brasileiro é bastante específico em relação à forma como devem ser repartidas as heranças, estabelecendo como herdeiros necessários o cônjuge, os descendentes (filhos) e os ascendentes (pai e mãe). De forma geral, pode-se dizer que uma pessoa casada e com filhos deve necessariamente dividir seus bens da seguinte forma: 50% ficam para o cônjuge e, da parte que lhe resta – os outros 50% -, metade deve ficar para os filhos. Na prática, isso significa que a pessoa, em um testamento, pode dispor legalmente de 25% do que tem em vida. Esses 25% podem ser deixados para os próprios herdeiros necessários ou para diferentes pessoas e instituições.
Mas, a despeito dos que muitos pensam, é possível, sim, deixar orientações para a divisão dos bens, respeitando a legislação brasileira. “Essa história de que não adianta fazer testamento porque a lei define tudo é uma lenda”, afirma o advogado especializado em direito de família, Ivo Aidar.
Blindagem de patrimônio
O advogado cita, por exemplo, a alternativa de gravar imóveis com uma cláusula de inalienabilidade. Na prática, isso significa que o herdeiro não pode vender o bem, mas apenas usufruir dele. Há ainda a cláusula de impenhorabilidade que, como o próprio nome diz, impede a penhora do bem, mesmo que o herdeiro tenha contraído dívidas. Outra opção é a cláusula de incomunicabilidade, que impede que o bem se comunique com o cônjuge do herdeiro.
“Ou seja, se a filha tiver um marido no qual os pais não confiem, essa é uma maneira de resguardar ao menos parte da herança, pois o objeto em questão não poderá ser partilhado num eventual divórcio”, afirma Aidar.
Na opinião do advogado, são alternativas como essas que tornam o testamento um documento útil não apenas para os donos de grandes fortunas, mas também para pessoas “comuns” que desejam administrar bens e recursos mesmo após a morte. “Vale acrescentar que o cidadão comum não precisa de um advogado para fazer seu testamento. Basta que ele siga as regras para validação do testamento particular, que não é registrado em cartório, mas precisa da assinatura de três testemunhas”, afirma.
Para conhecer os diferentes tipos de testamento e respeitar o que a legislação exige na partilha de bens, no entanto, vale contar com a consultoria de algum especialista no tema.
*O nome foi alterado a pedido do entrevistado

Mais de 20 milhões de brasileiros já têm auxílio-funeral

Pesquisa encomendada pelo mercado segurador mostra tamanho desse mercado, cuja falta de regulação traz riscos ao consumidor


“Transforma qualquer viúva em bom partido!” Com essa frase uma empresa vende em seu site um produto de seguro que tem assistência funeral, serviço que já foi adquirido por cerca de 13% da população brasileira, segundo o estudo Microsseguros no Brasil, encomendado ao Centre for Financial Regulation and Inclusion (Cenfri) pelo o mercado segurador brasileiro.
Segundo o estudo, estimativas que apontam algo entre 20 e 25 milhões de brasileiros com auxílio-funeral. Esse serviço é, em geral, um pacote de assistências oferecido por empresas que inclui ajuda para serviços burocráticos, transporte do corpo, taxas e ornamentação, entre outros. Em geral, esse auxílio está atrelado a um outro seguro, principalmente de vida.

Contudo, sem normas específicas da Superintendência de Seguros Privados (Susep) sobre o que seja o auxílio funeral especificamente, abre-se uma brecha para, sob o nome de auxílio funeral, os mais diversos serviços estarem incluídos, o que torna difícil a sua comparação..

Além da falta de uma padronização desses serviços, o mercado é recheado de  milhares de produtos ilegalmente distribuídos, porque não partem de uma seguradora. O Cenfri estima que entre 1500 e 2000 funerárias ou cemitérios privados pelo país ofereçam seguro funeral, dos quais não mais de 50 podem ser classificados como grandes, com mais de 200.000 vidas em seus registros.

Segundo o estudo, “a funerária pode empregar diretamente seus agentes por não estar sujeita aos dispendiosos acordos salariais do setor financeiro e, dado que ela não precisa seguir os regulamentos sobre seguros, não há restrições sobre quem pode ou não receber comissões”. Por isso, o modelo teria uma oferta mais rápida e mais barata. As seguradoras, necessariamente, têm de pagar corretores pela distribuição de seguros em geral.

Há fragilidade para o consumidor em ter um produto de empresa que não está legalizada, diz Solange Beatriz Mendes, diretora-executiva da Confederação Nacional das Empresas de Seguros (CNSeg). Se o consumidor paga o seguro por 20 anos e, quando seus familiares precisarem, a funerária tiver encerrado suas atividades, por exemplo, não haveria entidade a quem recorrer para reclamar.

O estudo do Cenfri encontrou o exemplo de um seguro funeral vendido no Nordeste por um a rede de funerárias que cobra uma quantia mensal entre R$ 8 e R$ 10, com cobertura de R$ 2,5 mil para custear despesas do sepultamento. A cobertura é estendida para filhos de até 35 anos e pais de até 65 anos.

Solange explica que esse mercado tem de ser mais bem regulado por se tratar de empresas lidando com a poupança popular. Mesmo sem a regulação eficiente, porém, o auxílio funeral já faz sucesso também entre grandes seguradoras. Muitas delas já oferecem o produto.