segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Coveiro usa cemitério para treinar Karatê em Manaus

Coveiro usa cemitério para treinar Karatê e prova que praticar esporte pode ser uma forma de viver em harmonia.

Em forma Ao 62 anos Valdemar cumpre dupla jornada entre as sepulturas (Bruno Kelly )
Existem pessoas que tem um verdadeiro pavor de cemitérios e não entram vivos nestes locais de maneira alguma. Talvez por associar o ambiente à  morbidez, despedidas e a eterna saudade de entes queridos. Há ainda quem evite passar próximo a uma “cidade dos pés juntos”, simplesmente pelo temor de ser “perseguido” por alguma alma penada, morto vivo, ou lenda semelhante. Mas, cemitério não é apenas local de tristeza ou luto. Cidades como Paris e Buenos Aires tratam suas necrópoles como “museus a céu aberto”, promovendo visitas guiadas para contar a história através das lápides que ali se encontram.
Em Manaus, um senhor de 62 vem dando um “ar diferente” ao Cemitério Parque Manaus, localizado no bairro do Tarumã, Zona Oeste. Por incrível que pareça, o esporte vem tomando conta do local.
Valdemar Ribeiro Souza deixa sua casa na Colônia Santo Antônio dirigindo sua motocicleta e geralmente chega no cemitério Parque Manaus antes de o dia amanhecer. Lá, ele vira um “profissional de sepultamento” fazendo os trabalhos de coveiro e de jardinagem. Quando o expediente termina, às 17 horas,  “seu” Valdemar troca a farda pelo quimono e coloca em prática sua segunda paixão: O Karatê interestilos. 
Praticante desde os 11 anos de idade, o coveiro é faixa-preta na arte marcial. No último mês de novembro, Valdemar conquistou duas medalhas no Campeonato Brasileiro Educacional de Karatê, realizado no Pará. Um ouro no Kata (simulação de luta com várias aplicações práticas) e uma prata no kumite (a luta propriamente dita).
Natural de Araguaína, Goiás, ele chegou em Manaus há 25 anos. Valdemar costuma utilizar o amplo espaço do Parque Manaus para complementar seus treinamentos que às vezes ocorrem antes, ou depois do serviço.
“Minha segunda casa é aqui no cemitério. Eu chego às 4h, 5h da manhã e treino aqui mesmo. Dou uma corrida e faço os movimentos antes de o trabalho começar”, revela Valdemar, que também treina na Associação Budokam Shotokan Karatê, no São Jorge.
A empresa que administra o cemitério lhe dá uma ajuda de custo nas competições.
Medo de quem?
No ano 2000, Valdemar largou o emprego em uma empresa de segurança para trabalhar no cemitério. No começo, ele fazia apenas serviços de jardinagem nos túmulos do Tarumã. Há cinco anos ele adicionou o serviço de coveiro a seu portifólio. A paz e o respeito que o local transmite foram fundamentais para a escolha. E ele faz questão de divulgar a ocupação. “Tenho orgulho da minha profissão. Fiz muitos amigos aqui. Quando chego em casa, dá vontade de voltar pro cemitério de novo. Aqui é um clima de paz e tranquilidade o tempo inteiro”.
Nem mesmo a possibilidade de alguma “entidade do além” cruzar seu caminho durante os treinamentos assusta. “Aqui não tem esse negócio de alma penada não (risos). Às vezes brinco dizendo que escuto uma voz gritando Valdemar. Mas é tudo brincadeira. O que existe aqui é muita paz”, conta. O Campeão Brasileiro dá aulas gratuitas em sua casa para 12 alunos, todos vivos, é claro. “Gostaria de ter um espaço maior e apoio para trabalhar o karatê com  jovens”.