segunda-feira, 10 de junho de 2013

Da paz dos cemitérios ao fogo dos crematórios

Queremos uma paz viva e participativa, com a juventude de todas as faixas etárias e agrupamentos envolvidos
"Quando ouço alguém falar em cultura, saco o meu revólver" - esta frase, de uma peça antinazista de Hanns Jost, encenada em 1933, ano em que Hitler assumiu o poder, foi atribuída a Herman Göring, chefe da Gestapo e braço direito do Führer.
Há uma variante, saída da boca de um magnata de Hollywood: "Quando ouço falar em cultura, puxo o meu talão de cheque".
E, na contramão, a paráfrase pacifista dos anos 1960, do "mago" francês Louis Pauwels: "Quando me falam em revólver, puxo a minha cultura".(Arnaldo Niskier)
É mais ou menos como nos sentimos aqui na Vila Prudente quando falamos sobre a construção do teatro, que já tem denominação sugerida para o grande teatrólogo e dramaturgo Zé Renato do Teatro de Arena (1/2/1926 - 2/5/2011), companheiro de Augusto Boal.
Recentemente a Comissão da Verdade começou a dirimir dúvidas porque houve um período na história do Brasil que foram abertos tantos cemitérios e se contratou um forno crematório de uma empresa inglesa Dowson & Mason, que seria instalado em Perus, no bairro de Vila Nova Cachoeirinha e acabou na Vila Alpina em 1974.
Neste período, houve uma enorme epidemia de meningite e era proibido divulgar os dados. Centenas de pessoas foram executadas pelo esquadrão da morte, além dos presos políticos.
O objetivo era cremar os corpos ao invés de enterrá-los.
O processo 180.991/69 registra um pedido de tramitação urgente e injustificado, no qual a empresa D&M acha estranho o projeto de prédio para o forno, considerado inadequado ao acompanhamento de familiares.
Quando concluído em 1974, o cemitério passou a recolher corpos de indigentes, os corpos vindos do IML e da Faculdade de Medicina, além da grande epidemia de meningite.
Essas histórias são tristes e macabras e vêm da memória da ditadura. E nós convivemos com essa herança em nosso bairro.
Por muitos anos essa tendência de não se construir no terreno mais nobre do loteamento do Jardim Avelino, por que era considerado uma enorme sesmarias, onde foi construído o Centro Educacional e Esportivo Arthur Friedenreich em 1969, o Cemitério em 1971 e o Crematório em 1974.
Todo o restante da área era um espaço agregado ao patrimônio da funerária, tanto é que isso levou mais de 10 anos para o Parque da Vila Prudente Lydia Natalizio Diogo sair do papel.
Em uma área total de 380 mil m² pretende-se construir o teatro de 2.187m². Vários expedientes protelatórios foram feitos para não se ocupar a área, como a existência de um clube privado e outras formas de utilização, para impedir que a área tivesse outra destinação que não as atividades lá existentes e de exploração comercial.
Essa tendência vem mudando nos últimos anos com iniciativas vitoriosas, pois o grupo político e empresarial que dominou a década de 1960 e 1970 está mudando gradativamente. A Folha de Vila Prudente tem exercido um papel importantíssimo na aglutinação das forças progressistas e na transformação desta visão.
A construção do Centro Cultural e do teatro são pontos centrais e estratégicos desta mudança de mentalidade.
É sabido que arte pode não mudar a realidade, a arte pode retratar a realidade, mas os artistas, os poetas, os sonhadores, os intelectuais e as pessoas de bem podem e acreditam que possa se construir uma sociedade civilizada e evolutiva.
Principalmente na nossa região tão desprovida de equipamentos culturais, esportivos e de lazer.
Os últimos teatros construídos são da década de 1950, como Arthur de Azevedo e Paulo Eiró. E agora, que temos essa possibilidade, não podemos de forma nenhuma jogá-la fora.
Um teatro com essas características, aliado a um centro cultural, é mais do que importante e necessário para nossa região. E esse sonho não acabou.
Foram 10 anos de marchas e contramarchas. Esse sonho continua vivo e vai ser realizado.
Chega da paz do cemitério e fogo dos crematórios!
Queremos uma paz viva e participativa, com a juventude de todas as faixas etárias e agrupamentos envolvidos.
*Adriano Diogo é deputado estadual pelo PT-SP
Autor: Adriano Diogo

Construção de crematório gera polêmica em Joinville

 

Assista ao vídeo clicando aqui.

 

Em protesto contra crematório, moradores fecham a avenida Santos Dumont em Joinville

Manifestantes usaram placas, faixas e até caixões durante a mobilização


img João Batista da Silva
@jb_joaobatista
Joinville      

 
 


Luciano Moraes/ND
Moradores fecharam a Santos Dumont pedindo a suspensão das obras do crematório

Os moradores dos bairros Aventureiro, Jardim Paraíso, Jardim Sofia e Vila Cubatão, que já são vizinhos dos cemitérios do Cubatão e Jardim das Flores na região, não querem mais um empreendimento funerário perto de suas casas. A indignação contra a chegada do crematório, em construção na esquina da avenida Santos Dumont e rua Tuiuti, mobilizou mais de 100 pessoas na tarde desta sexta-feira (07) em frente ao local. O grupo fechou a avenida por meia hora, em protesto com faixas, placas e até caixões para sensibilizar as autoridades de que área é inadequada para o serviço.
“Não vejo a chegada o crematório como um progresso. O Aventureiro vai virar um bairro-cemitério”, afirmou o aposentado Flávio Cercal, 63, reclamando da falta de serviços mais essenciais na região, como bancos e escolas. De acordo com o empresário Alberto Beier, um dos organizadores da mobilização, os moradores não são contrário ao crematório mas ao local onde está sendo instalado. “Nós entendemos que o crematório é bom para a cidade. O que discutimos é a posição geográfica. Estão fazendo um crematório em frente a uma cidade de 34 mil habitantes”, considerou, em referência ao bairro mais populoso de Joinville.
A população quer que o serviço seja instalado às margens da BR-101. Outro problema apontado diz respeito à mobilidade com o aumento de cortejos vindos de vindos de outros bairros e cidades. “É um tipo de empreendimento que não traz benefícios para a comunidade. Vai entupir nossas ruas”, completou. Outro morador, Robson de Souza, 35, destacou que a presença de um crematório na região interfere negativamente numa das principais entradas da cidade, em função do aeroporto. “Não queremos ficar conhecidos com o bairro do crematório”, disse.
Novos protestos previstos
As lideranças comunitárias dos bairros envolvidos pretendem fazer novos protestos todas às sextas, até que o empreendimento seja paralisado. Além das manifestações, um abaixo-assinado, com mais de cinco mil assinaturas já coletadas, está sendo elaborado. O documento será anexo a uma ação judicial que uma comissão de lideranças pretendem abrir contra o crematório. “Sabemos que legalmente a empresa está amparada, mas a gente vai tentar embargar a obra judicialmente”, informou o coordenador da Uamba (União das Associações de Moradores do Bairro Aventureiro), Luiz Castanha.
Ele ainda comentou que será solicitado um estudo de impacto de vizinhança e uma audiência pública com os moradores para esclarecer a população sobre o novo serviço. “Antes de se construir, a população do Aventureiro deveria ser consultada. O crematório não é uma coisa que traz facilidades à vida dos moradores. Os imóveis ficarão desvalorizados”, considerou. Também na sexta, Castanha e outros integrantes da comissão de moradores tiveram uma conversa com o prefeito sobre o assunto. O grupo aguarda uma interferência do governo.
Legalidade
A construção do crematório começou a cerca de três semanas e deve ficar pronta em seis meses. Com todas as licenças liberadas para o início do trabalho, após o término, a empresa responsável, que já atua com uma funerária na cidade, ainda precisa receber a autorização de operação, que confirma que a obra foi feita conforme o projeto, para as atividades terem início. Desde a primeira tentativa de implantar o serviço em Joinville, em 2007, a empresa destacou que o serviço não é poluente, não produz cheiro e nem fumaça.
Em reunião com os representantes dos moradores na sexta, a Prefeitura destacou que a construção da obra no local está dentro da legalidade. O prefeito Udo Döhler acompanhou o encontro, manifestando-se aberto ao diálogo com os moradores sobre o projeto. Os diretores do Ippuj (Institutod e Pesquisa e Planejamento Urbano de Joinville) e da Fundema (Fundação Municipal do Meio Ambiente), no entanto, esclareceram que a construção atende todas as exigências legais em relação ao zoneamento e as licenças. O presidente do Ippuj, Vladimir Constante, explicou que o crematório é uma atividade não poluidora e de baixo impacto na mobilidade. “Comparado com outras atividades daquela região como o aeroporto, cemitério, indústrias, igrejas e centro de eventos o impacto é bem menor”.

Publicado em 08/06/13-08:23 por: João Batista da Silva.