segunda-feira, 22 de julho de 2013

Há oito anos crematório espera autorização para funcionar

Equipamento foi comprado em 2005; problema é a lentidão da Secretaria de Meio Ambiente



Mary Juruna/MidiaNews
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Sócio-proprietário da Somatem, Sílvio Muller, mostra equipamento parado por falta de licenciamento
DÉBORA SIQUEIRA
DA REDAÇÃO
Há oito anos, a Pax Nacional Prever importou o primeiro forno crematório para Cuiabá, mas por burocracias que se arrastam anos a fio na Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema), até hoje não conseguiu a licença para sua instalação no cemitério Parque Bom Jesus, no bairro Parque Cuiabá, e a autorização para fazer as cremações.

O maquinário, importado dos Estados Unidos em 2005, ao custo de US$ 300 mil, fica abrigado em uma casa, e foi desembalado apenas para a reportagem do MidiaNews.

“Entramos com o pedido do licenciamento em 2006, era para ter encaminhado para a prefeitura de Cuiabá, já pediram tantos documentos e, apesar de termos entregado tudo, não fizeram nada”, reclama o diretor da Pax Nacional Prever, Nilson Marques. 
"Se a licença não sair esse ano, vou levar um bolo na Sema e cantar parabéns pela incompetência deles"


A ideia era construir o crematório de Cuiabá em um prédio em frente à administração do cemitério Parque Bom Jesus, administrado pela Sociedade Mato-grossense de Empreendimentos (Somatem).

Pelo projeto, estimado em R$ 3 milhões para sair do papel, o primeiro pavimento numa espécie de anfiteatro é para o cerimonial de despedida. No andar inferior está instalado o forno crematório, mas a família não acompanha a cremação. Dias depois ela recebe as cerca de 700 gramas de cinzas.

Contudo, até hoje o projeto está engavetado pela falta do licenciamento. Na época da importação do forno crematório para Cuiabá, o Grupo Ângelus, que a Pax Nacional faz parte, trouxe outros equipamentos para Porto Alegre (RS), Maringá (PR) e Belo Horizonte (MG). Nestas cidades, os crematórios funcionam desde 2007.

“A Sema exigiu tanta coisa, colheu vegetação, catalogou animais, sendo que o impacto ambiental de uma cremação é menor do que de um carro a álcool. A emissão é zero, existem filtros, há toda uma tecnologia. Se a licença não sair esse ano, vou levar um bolo na Sema e cantar parabéns pela incompetência deles”, argumentou Nilson Marques.

O sócio-proprietário da Somatem, Silvio Luiz Muller, mostra cinco caixas e outras pastas de documentos do processo de licenciamento do crematório protocolados junto a Sema. O Estudo de Impacto Ambiental já foi realizado e até mesmo a vizinhança já foi ouvida sobre a forma opcional ao sepultamento tradicional.

“Uma reunião será agendada para essa semana entre técnicos da Sema e da empresa Eco Assessoria Ambiental, responsável pela elaboração do estudo, esperamos que o licenciamento saia logo. Acredito que estamos na reta final”.

Mary Juruna/MidiaNews
Documentação do processo para liberação do crematório consomem cinco caixas
A reportagem do MidiaNews entrou em contato com a Sema para saber sobre o processo do licenciamento do crematório, mas nenhum responsável concedeu informações sobre o andamento deste processo.

Cinzas, diamante e religião

De acordo com o diretor da Pax Nacional Prever, Nilson Marques, há procura para o serviço de cremação em Mato Grosso, mas que o custo é alto porque é necessário fazer traslado para Brasília em caixão especial e por transporte aéreo, algo restrito a pessoas mais abastadas.

“Se estivesse em funcionamento, a cremação sairia mais barato do que comprar uma gaveta no cemitério”, comentou.

O sócio-proprietário da Somatem, Silvio Muller, diz que além de mais higiênico e ambientalmente adequado, a cremação tem um custo equivalente ao de um sepultamento tradicional.

“Cada família tem uma forma de destinar as cinzas. Algumas preferem lançar ao mar, outras no rio, algumas enterram a urna, outros jogam em árvores e alguns transformam as cinzas em diamante”, explicou Muller.

Eternizar a lembrança de um parente querido em uma joia é um processo que não sai barato. Pode chegar até mais de R$ 60 mil dependendo do quilate e da lapidação da pedra. O processo é realizado em um crematório de Santa Catarina em parceria com uma empresa suíça.

No cemitério Parque Bom Jesus há três urnas enterradas de vítimas da bomba atômica que atingiu a cidade japonesa de Hiroshima, em 1945.

Por meio de uma pesquisa, moradores dos bairros vizinhos foram ouvidos no Estudo de Impacto Ambiental para serem ouvidos sobre o que acham do processo de cremação. Mais de 60% foram favoráveis.

No Parque Geórgia 84% dos moradores aprovou o processo, o índice foi de 69% no Jardim Mossoró, 68% no Parque Atalaia, 74% no Parque Cuiabá e 58% no Residencial Coxipó. Mais de 70% dos entrevistados ouvidos eram católicos.

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