terça-feira, 23 de junho de 2015

Ex-funcionário de funerária particular conta detalhes de esquema ilegal


Esquema tira dinheiro de pessoas que precisam enterrar parentes em SP.
Ex-funcionário afirma que pagava propina para servidores públicos.


Depois que o Jornal Hoje mostrou um esquema que tira dinheiro de pessoas que precisam enterrar um parente em São Paulo, surgiram novas denúncias. Um ex-funcionário de uma funerária particular contou os detalhes de como pagava propina para servidores públicos.
Os atravessadores que abordavam as famílias nas entradas do IML Central e do Serviço de Verificação de Óbitos desapareceram. O servidor público Olávio de Fatimo Occhiuzzi, que ofereceu os serviços de uma funerária particular, já não trabalha mais na agência funerária. Ele foi transferido para uma atividade sem contato com o público e vai responder a uma sindicância.
Na segunda-feira (22), o Jornal Hoje mostrou um esquema ilegal para tirar dinheiro das famílias que precisam enterrar um parente em São Paulo. Atravessadores e funerários particulares oferecem serviços funerários que são de competência exclusiva da Prefeitura. Eles cobram a mais por isso das famílias e dizem que pagam propina para os servidores municipais.
Agora, surgiram novas denúncias. Um homem diz que foi ao serviço de verificação de óbitos e que lá atravessadores pediram dinheiro para liberar o corpo do irmão mais rápido. “Cobraram na faixa de R$ 6 mil, porque o caixão teria que ser grande”, relata.
Ele se recusou a pagar, procurou o serviço funerário e o enterro saiu por um preço três vezes menor. Porém, para liberar o corpo teve que dar dinheiro para o motorista do serviço funerário: “O motorista que levou o corpo para o velório cobrou mais R$ 200. Aí ele viu que eu fiquei nervoso e me cobrou R$ 50”.
A equipe do Jornal Hoje localizou em São Paulo um ex-funcionário de uma funerária particular que diz que participava ativamente de um esquema de corrupção dentro do serviço funerário da Prefeitura.
Ele afirma que era o encarregado de pagar propina para os servidores públicos. Como a funerária particular não pode, por lei, fazer enterros em São Paulo, ele conta que a cada sepultamento pagava caixinha, inclusive nas agências funerárias do município, que ele chama de mesa.
“Pagava direto na mesa, nas agências funerárias, pros motoristas e pros coordenadores de garagem, em torno de R$ 50 a R$ 100 na mesa, em dinheiro, sempre em dinheiro, dinheiro vivo. A empresa já dava esse dinheiro pra fazer o acerto”, afirma.
O ex-funcionário explica o que acontecia se não pagasse a propina: “O serviço não andava. Era a única forma que o serviço podia acontecer. Então, primeiro, pra eles se calarem, pra não falarem pra família que você tava fazendo um serviço que não era certo, que não era correto”.
Ele disse ainda que as famílias pagavam pelo enterro um valor bem maior que o cobrado pela prefeitura e deu exemplo. Pela tabela da Prefeitura, o funeral podia sair por R$ 2 mil. A funerária, então, cobrava da família R$ 5 mil. Assim, pagava o funeral que era feito pelo município e ainda tinha lucro.
“Era R$ 2 mil na Prefeitura e R$ 5 mil para a empresa, nessa faixa. Um lucro bom, de R$ 3 mil líquidos, em cada atendimento. É uma máfia extremamente organizada, sabe o que tem que fazer e exploram as pessoas no momento mais delicado, que é o momento do luto, sem sentimento, sem medo nenhum”, relata.
A atual gestão do serviço funerário de São Paulo declarou que vem trabalhando com a Controladoria Geral do município para enfrentar eventuais denúncias de funcionários públicos, desde que assumiu em janeiro do ano passado. O serviço funerário da Prefeitura disse ainda que várias ações estão sendo tomadas para informar a população sobre as competências dos diferentes órgãos públicos na hora de contratar um funeral, para evitar que as pessoas sejam exploradas por pessoas inescrupulosas.

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