Muitos túmulos nunca passaram por manutenção e há cruzes e jazigos cobertos pela vegetação
Construído em meados de 1931, o cemitério do Heimtal é onde
foram feitos os primeiros sepultamentos de Londrina, antes mesmo da
fundação do município, que ocorreu em 10 de dezembro de 1934. Localizada
na zona norte, a velha necrópole abriga os restos mortais de pioneiros
alemães e húngaros e de outras etnias. Há lápides no local que
apresentam datas (de nascimento) do século 19. O espaço ainda guarda
histórias que até hoje comovem a comunidade, como a dos bebês gêmeos que
teriam sido envenenados em 1940.
Histórias que estão morrendo. Em ruínas, muitos túmulos nunca
passaram por manutenção. Parte das lápides caiu sobre as sepulturas. Há
cruzes e jazigos cobertos pela vegetação. A dona de casa Maria Helena
Bernardes mora em frente ao cemitério e é considerada a guardiã do
local. Segundo ela, o espaço não é visitado diariamente. "Nem em datas
especiais. Não há uma grande movimentação de visitantes nem mesmo no Dia
de Finados (2 de novembro)", relata. "A maioria foi sepultada há muito
tempo neste cemitério, há mais de 80 anos, e não possui familiares na
região de Londrina", conta.
Maria Helena acredita que alguns túmulos até "desapareceram".
"Olha, a grama tomou parte do cemitério e acabou escondendo os túmulos.
Às vezes, a pessoa caminha por aqui e não sabe que está sobre um
túmulo", diz. Ela acrescenta que o cemitério sofre invasões constantes
de vândalos, responsáveis também pela destruição. "Quando vejo alguém
aprontando aqui, grito lá de casa para sair. Se precisar, aciono até a
polícia. Me esforço para evitar que um espaço tão bonito seja ainda mais
destruído", afirma a moradora.
'MORADA DOS ANJOS'
O
cemitério do Heimtal já foi chamado de "morada de anjos". A dona de
casa Maria Helena Bernardes resgata a história que até hoje comove a
comunidade: a dos bebês gêmeos que supostamente morreram envenenados em
1940. "Uma mulher, que na época tinha 32 anos, viajou do interior de São
Paulo para o Heimtal. A intenção dela era apresentar os filhos, de oito
meses de vida, aos familiares que aqui moravam", detalha. "Enquanto
preparava o alimento dos bebês, uma pessoa teria envenenado o leite. Os
gêmeos acabaram tomando e morreram envenenados", revela.
O jazigo contém adornos e dois anjos de concreto. Apesar da
deterioração, a placa se mantém legível, porém em alemão. Mesmo assim é
possível identificar os nomes deles e a data de nascimento (dezembro de
1939) e de morte (agosto de 1940). Apesar do relato, não há confirmação
oficial sobre a veracidade da história.
Foto: Alvaro Pegoraro / Folha do Mate Municipal não pode receber novos jazigos. Utilizam a estrutura as famílias que mantêm espaços há vários anos
A Prefeitura de Venâncio Aires destinou R$ 15 mil para custeio de uma
consultoria que vai elaborar um dossiê atualizado das situações dos
cemitérios públicos. O projeto foi aprovado no Legislativo e a licitação
deve ser providenciada em breve. Vila Rica, Cemitério Municipal e Ponte
Queimada são os três campos santos alvos de análise. Conforme o
prefeito Giovane Wickert, o diagnóstico servirá de base para tomada de
decisões em relação à ocupação e eventual expansão dos cemitérios para
os próximos 20 anos.
A falta de espaço para sepultamentos em cemitérios públicos foi o que
determinou a ação da gestão. Segundo a justificativa da proposta, serão
levados em conta, no estudo, os aspectos administrativos, operacionais,
financeiros, sociais, legais, ambientais, paisagísticos e históricos,
além de projeção de possíveis parcerias e convênios para a melhoria das
estruturas. O valor destinado à consultoria está em rubrica da
Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos (SISP), pasta
responsável pelos cemitérios.
O problema não é novidade e era frequentemente citado pela oposição à
Administração anterior, na Câmara de Vereadores. Agora no governo,
agentes públicos que criticavam a inércia do Município em relação ao
assunto querem uma solução para a demanda. O terreno comprado por R$ 200
mil no bairro Santa Tecla - a área onde seria construído um novo
cemitério - é seguidamente lembrado nas sessões do Legislativo, mas a
implementação do campo santo no local parece muito improvável. O terreno
está tomado pelo mato e foi 'cercado' por loteamentos, o que
dificultaria a utilização do local para esta finalidade.
Giovane Wickert admite que o estudo será contratado para 'saber se o
melhor caminho é construir novas estruturas ou investir em espaços
consolidados'. De acordo com ele, a consultoria será feita por
especialistas no assunto, o que embasará futuras medidas da
Administração. 'Todos sabem que a capacidade dos nossos cemitérios está
quase no limite, portanto é dever do poder público buscar as
alternativas ao problema. Temos que dar opção à comunidade', argumentou,
acrescentando que 'o Município não deixará de atuar no que é de sua
competência e vai seguir tendências, sem querer inventar moda'. MEMORIAIS - Entre as tendências citadas pelo
prefeito está a criação de memoriais nos cemitérios, o que elevaria a
capacidade para sepultamentos. As estruturas seriam construídas, segundo
ele, para receber restos mortais decorrentes de exumações,
procedimentos que seriam desencadeados dentro da legalidade e a partir
do consentimento das famílias. 'É uma possibilidade, com os memoriais
recebendo as urnas menores, abrindo espaço nos jazigos. Nossa intenção é
criar condições que nos permitam absorver a demanda. Temos que evoluir
nas questões relacionadas a licenciamentos e paisagismo também', diz
Giovane Wickert.
'A verticalização das estruturas também é uma possibilidade. Em Porto
Alegre, por exemplo, estão fazendo isso. Queremos buscar soluções e dar
opção para a comunidade' Giovane Wickert, prefeito de Venâncio
SITUAÇÃO DOS CEMITÉRIOS Vila Rica: Dos três campos santos visitados pela
reportagem da Folha do Mate nesta sexta-feira, é o que mais precisa de
atenção do poder público. Está crescendo desordenadamente e, em alguns
pontos, fica visível que o terreno está cedendo, comprometendo os
jazigos. Chama a atenção, ainda, o fato de que algumas sepulturas estão
sendo construídas em altura desproporcional, tudo em razão da falta de
espaço para novas carneiras. A área de aproximadamente dois hectares que
fica ao lado do cemitério e chegou a ser sondada para uma ampliação,
foi negociada e, conforme relato ouvido pela reportagem, 'agora pertence
a um empresário que dificilmente irá aceitar vender para a Prefeitura'. Cemitério Municipal: É organizado, está limpo e os
jazigos seguem um padrão, garantindo acesso às sepulturas. Os problemas
são a superlotação e a inviabilidade de expansão do campo santo. Ou
seja, só têm acesso ao local as famílias que mantêm seus espaços há
vários anos. Construção de novos túmulos, no quarteirão que abriga o
Cemitério Municipal, não é possível. Ponte Queimada: O cemitério, de acordo com o
presidente Eloi Rosa, recebe sepultamentos apenas de pessoas ligadas à
comunidade. Ainda há espaço para alguns jazigos, afirma ele, mas nenhuma
obra pode ser feita sem o seu consentimento, já que é o responsável
pelo local. Embora tenha sepulturas bastante antigas, no geral o campo é
organizado, e uma limpeza realizada recentemente evidenciou a
existência de um espaço desocupado dentro da área do cemitério. 'Mas não
tem nada a ver com a Prefeitura', garante Rosa, salientando que,
talvez, o Município tenha interesse de estudar a viabilidade de
construção de um cemitério na divisa com o da Ponte Queimada, em área
que foi recebida em doação. 'É uma situação complicada ali, pelo que
parece. Foi encontrada uma vertente e o Meio Ambiente trancou a
construção. Depois fizeram um vigamento para o Centro de Recuperação de
Dependentes Químicos e a obra parou. Não sei se teremos obras naquele
local', comenta. Em 17 anos, Bela Vista teve 900 sepultamentos
Alternativa à falta de vagas aos campos santos públicos, o Cemitério
Parque Jardim Bela Vista teve, em 17 anos, aproximadamente 900
sepultamentos, de acordo com José Kist, proprietário do empreendimento
localizado no Corredor dos Gauer. Espaço há de sobra, mas, como o
próprio Kist diz, 'hoje em dia ninguém quer gastar'. Ele afirma que,
desde 2000, quando inaugurou o local, a demanda se mantém, em média, em
quatro ou cinco sepultamentos mensais. 'Em alguns meses temos seis, em
outros dois, em outros nenhum. A superlotação nos cemitérios público não
aumentou a nossa demanda', analisa.
Mesmo assim, o empresário planeja a expansão tanto da área edificada
quanto do jardim, espaços onde ficam as sepulturas. Além disso, segue
tramitando na Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) os pedidos
de licenciamento para a implementação do crematório no complexo, que
será o primeiro da região. 'Esta é uma tendência e teremos condições de
praticar valores mais baixos do que um sepultamento tradicional. Já
protocolamos na Fepam o projeto pedindo licença para instalação de
equipamentos, fornos e geradores de energia. A cremação é um método que
permite uma destinação final, não requer manutenção e que está sendo
procurada cada vez mais', salienta Kist.
Tijucas
Começou a funcionar, em Tijucas, a primeira empresa de cemitério e
crematório para pets de Santa Catarina, implantado em uma área verde de
cinco mil metros quadrados.
Os túmulos são padronizados, apenas com lápides à mostra. A cremação
segue à risca as normais ambientais. Já existe um crematório para pets
em Balneário Camboriú, o Caminho dos Animais.
O Memorial Park Amigo Fiel, na Grande Florianópolis, é um projeto
amadurecido desde a década passada pelo casal Gilmar e Marcia Gilmar
Rachadel. Tem infraestrutura completa, incluindo capela (salinha do
tchau), memorial (cantinho da saudade) e até uma loja de souvenires.