quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Cemitérios precisam ter controle de contaminação

Cemitérios criados antes de 2003 e que continuam ativos têm até o dia 31 de dezembro deste ano para realizar adequações de segurança para monitorar a contaminação do lençol freático e prevenir a poluição. O prazo foi estipulado em resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente e os órgãos ambientais estaduais e municipais ficaram responsáveis por estabelecer os critérios de adaptação e também assumirão a fiscalização. No estado, mesmo sem um levantamento preciso do número de cemitérios, o chefe regional de Curitiba e região metropolitana do Instituto Am­­biental do Paraná (IAP), Re­­ginato Bueno, diz que a maioria deles está irregular e a dois meses do final do prazo ainda não enviou os projetos de adequação. De acordo com ele, as vistorias dos quase 800 cemitérios do Paraná começa em janeiro.
Em Curitiba, a regulamentação para adaptação e criação de novos cemitérios veio antes da resolução de 2003. Os locais precisam de licenciamento anual, que só é concedido mediante leituras positivas dos índices de contaminação medidos pelos postos de monitoramento obrigatórios. Além disso, os cemitérios precisam apresentar um plano de resíduos para destinação correta do resto do lixo que é produzido no local, de acordo com o superintendente de Controle Ambiental, Mário Sérgio Rasera.
 
Necrochorume

Pouca gente sabe, mas o necrochorume – líquido eliminado por cadáveres durante sua decomposição – contém alta carga tóxica e microbiológica, com vírus e bactérias, podendo comprometer o meio ambiente e causar problemas de saúde se não for devidamente tratado. Cada cadáver verte cerca de 200 mililitros de necrochorume por dia, por no mínimo seis meses. A substância, de cor acinzentada, cheiro azedo e fétido, é formada por 60% de água, 30% de sais minerais e 10% de substâncias orgânicas, duas delas, altamente tóxicas: a putrescina e a cadaverina.

Segundo a engenheira sanitarista da Tegeve Ambiental, empresa especializada em saneamento ambiental, Maria Rosi Melo Ro­­drigues, os micro-organismos liberados podem transmitir doenças por meio da ingestão ou contato com água contaminada pelo necrochorume. “É assim que muitas pessoas podem acabar sendo vítimas de enfermidades como hepatite, febre tifoide, paratifoide, tuberculose e escarlatina, entre outras”, afirma. Além disso, ela explica, o líquido pode atingir as águas subterrâneas, lençóis freáticos, e consequentemente chegar aos rios ou até mesmo serem captadas por meio dos poços artesianos.

Cremação
De acordo com o professor do doutorado de Gestão Am­­biental da Pontifícia Uni­versidade Católica do Paraná, Carlos Mello Garcia, o cuidado com o destino do necrochorume deve ser igual ao tratamento dado ao lixo industrial. Para ele, a solução sanitária ideal seria cremar os corpos. Um corpo de 70 quilos gera em média 2,5 quilos de cinzas, que não são poluentes. Mas a prática ainda não é muito comum. Assim, segundo Gar­cia, a melhor solução de adequação seria drenar o líquido por tubulação e tratá-lo antes de devolvê-lo à natureza.
Soluções
Bons exemplos em Curitiba

Construído há 14 anos, o Cemitério Parque São Pedro, no bairro Umbará, em Curitiba, é tido como primeiro cemitério ecológico do Brasil. O diferencial é uma estrutura composta por poços de monitoramento e uma malha de drenagem profunda que abrange os seus 120 mil metros quadrados de área. Através do sistema, o necrochorume é drenado para um filtro biológico. A cada seis meses, águas subterrâneas são analisadas.

O custo para a construção de um cemitério ecologicamente cor­reto é cerca de 30% maior do que o con­vencional, mas para o diretor de marketing Ronaldo Vanzo, o investimento valeu a pena. O principal objetivo em obter a certificação foi tornar o Parque São Pedro uma empresa de referência em qua­lidade. “Já fomos procurados até por arquitetos americanos, que de­­mostraram interesse em utilizar as mesmas técnicas aplicadas aqui”, comenta.

O Cemitério Parque Iguaçu, também no bairro Barigui na capi­tal, adotou uma alternativa com es­­ta­ções de tratamento para o ne­­crochorume que remove as cargas orgânicas mais tóxicas do chorume e permite que o líquido resultado do processo também possa ser reu­tilizado, por exemplo, na irrigação da terra. “Isso é possível porque a car­ga poluente é tratada de forma anaeróbica, num recipiente fechado onde ele passa por
uma desinfecção, antes de ser devolvido à natureza”, ex­­plica Maria Rosi, responsável pelo projeto.

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