segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Cemitério da Saudade continua sem velório e causa transtornos a famílias




Euler Junior/EM/D.A Press

Uma obra que se arrasta há quase dois anos no Cemitério Municipal da Saudade, no bairro homônimo, na Região Leste de Belo Horizonte, está parada desde dezembro para ajustes contratuais e aguardando aditivos de valor, mas aumenta ainda mais a angústia de quem precisa sepultar um parente ou amigo. Os quatro velórios estão interditados para reforma e outros cinco precisam ser concluídos. Os corpos são velados em locais distantes, o que gera transtorno com o deslocamento. Ontem, um corpo foi velado numa funerária particular do Bairro Santa Efigênia e outro em uma igreja evangélica do Alto Vera Cruz, ambos na Região Leste. Segundo a Fundação Municipal de Parques, o orçamento inicial da obra foi de R$ 3,5 milhões. A Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sucecap) não informou se há previsão de retomada da obra.

O Saudade é a segunda necrópole municipal mais antiga da capital. Foi construído em estilo clássico, em 1942, para atender à população de baixa renda que desejava um jazigo perpétuo. O mais antigo é do Bonfim, na Região Noroeste, inaugurado em 8 de fevereiro de 1897, que sempre atendeu famílias de maior poder aquisitivo.

Em sete meses, a aposentada Tereza Mendes, de 62, viveu o drama de velar mãe e irmão longe do local do sepultamento. No caso da mãe, foi preciso contratar o espaço de uma funerária particular no Santa Efigênia para fazer o velório. Ontem, ela sepultou o irmão e também precisou recorrer à funerária, onde o corpo passou a madrugada em local fechado. O irmão morava a um quarteirão do Cemitério da Saudade e muita gente que o conhecia não foi ao velório por depender de transporte. “Não tinha outro jeito de fazer o velório. Ofereceram para a gente os velórios do cemitério do Bonfim e o da Paz, mas eles ficam do outro lado da cidade”, reclama Tereza. “Tivemos que fazer dois deslocamentos com o corpo. É uma muita humilhação com a gente”, comentou.

O aposentado Antônio Francisco dos Santos, de 70, mora na rua do Cemitério da Saudade e conheceu o irmão de Tereza desde pequeno. “Fui de carro ao velório e não consegui lugar para estacionar. Se fosse velado no cemitério, era só atravessar a rua. Prometeram essa obra para a Copa do Mundo e ficaram enrolando”, denuncia o aposentado, lembrando que o Saudade é o único cemitério da Região Leste e as pessoas preferem sepultar seus mortos perto de casa.

Outro problema, segundo o aposentado, é o tumulto no trânsito provocado pelos carros que acompanham o cortejo fúnebre e que chegam todos ao mesmo tempo. “São muitos carros e ônibus fretados e o trânsito fica parado. Se os velórios do cemitério estivessem prontos, os carros iriam chegando aos poucos”, reclama.

O chefe de Divisão de Necrópoles José Chagas Diniz Couto, responsável pela administração do cemitério, informou que a obra inclui uma lanchonete com floricultura, um portal de entrada, onde fica uma guarita de vigilância, e ainda a construção do almoxarifado, prédios que já foram concluídos, mas não inaugurados. O prédio da administração também será reformado, segundo ele. Para o aposentado Antônio Francisco, a prefeitura deveria ter dado prioridade à reforma e construção dos velórios, para facilitar a vida de quem já está sofrendo pela perda de um ente querido: “Fizeram primeiro a lanchonete, mas ela está fechada?”

TAXAS Mesmo sendo municipal, o sepultamento de um corpo nas quatro necrópoles da prefeitura não sai barato. A taxa de velório custa R$ 127,72 no Cemitério da Saudade; no da Paz, R$ 182,65; no Consolação, R$ 127,72, e no Bonfim são dois preços: R$ 482,68 e R$ 359,65. Há também taxa de sepultamento, que no Saudade é de R$ 182,65. Quem decide por uma sepultura perpétua paga taxa anual de conservação do cemitério de R$ 62, mas a conservação e manutenção do mausoléu são da família do morto. Por isso, muitos mausoléus estão abandonados. A taxa de exumação do corpo é de R$ 182,65.

Quando se trata de sepultamento de pessoas especiais, como são chamados indigentes e de famílias com atestado de pobreza, a Santa Casa faz todo o serviço de graça, com urna, flores e velório. Mas a família deve procurar o serviço social da Regional para se declarar pobre.

CANGAÇO Diferentemente do Cemitério do Bonfim, que tem celebridades sepultadas , como o ex-presidente da República Olegário Maciel e o ministro da Marinha Raul Soares, talvez os restos mortais mais ilustres do Cemitério da Saudade sejam do irmão do cangaceiro Virgulino Ferreira, o Lampião. No túmulo, o ex-cangaceiro Antônio Inácio da Silva, o Moreno, aparece na fotografia ao lado da mulher, Durvalina Gomes de Sá, a Durvinha, que também fez parte do bando de Lampião. O casal viveu o resto de suas vidas em BH. Durvinha foi sepultada em outro cemitério da cidade, mas seus restos mortais foram levados para junto do companheiro, no ano passado. O pedido foi feito à PBH pela filha do casal, Neli Maria da Conceição, e o município doou o túmulo ao reconhecer a relevância histórica dos ex-cangaceiros. “Moreno e Durvinha. Sangue, amor e fuga no cangaço”, diz a placa, sem mais informações. “Moreno foi sepultado em cova comunitária. Em 2012,  a prefeitura cedeu um espaço melhor para os restos mortais”, disse Couto.

Nenhum comentário: