segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Emblemas de times viram moda em cemitérios de São Paulo

Os nomes José Avelino Sobrinho e José Avelino Irmão estão numa lápide do cemitério da Vila Alpina (zona leste). Pouco se sabe sobre a vida dos irmãos, mortos a tiros e enterrados em 10 de fevereiro de 2001. Só não há dúvida em relação a um fato: o time deles. Sobrinho, 58, era corintiano. Irmão, 55, palmeirense.

Numa mesma placa fúnebre estão os emblemas dos times sob a foto de cada um, o que revela uma prática que vem crescendo, segundo estudo do professor Fábio Mariano Borges, que leciona na ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) e na Faap (Fundação Armando Álvares Penteado).

A galeria 46 do ossário da Vila Alpina, onde estão os Avelinos, não é a única com distintivos. Numa olhada rápida é possível ver vários "defuntos-torcedores".
Borges, especialista em consumo, percorreu cinco cemitérios públicos da capital e constatou que as lápides são oferecidas nos enterros por vendedores, que dispõem de "books" de placas fúnebres, com opções de frases religiosas, imagens santas e, claro, insígnias de clubes.

Para o professor, o costume mostra que colocar o escudo de um time na lápide representa uma espécie de religião. Nos cemitérios, a simbologia do futebol divide espaço com ícones da igreja.

O pesquisador fotografou cerca de 400 escudos em sua pesquisa. Palmeiras, São Paulo, Corinthians e Santos aparecem representados. 



Fábio Mariano Borges/Divulgação
Lápides com distintivos do Corinthians e do Palmeiras, em homenagem aos mortos
Lápides com distintivos do Corinthians e do Palmeiras, em homenagem aos mortos

A ideia para o trabalho acadêmico surgiu no funeral da avó dele. "Mal enterramos o corpo e já apareceu o vendedor de lápides."

Ao ouvir familiares, Borges descobriu que o time de coração era também uma maneira de identificar o morto.

Ao mesmo tempo, diz Borges, é uma maneira leve e divertida para as famílias transgredirem a morte.

"Quem anda pelo cemitério vai parar nas lápides. É como se o defunto estivesse dizendo: 'oi, eu sou o fulano, palmeirense'", diz.

Outra constatação é o fato de ser uma prática em cemitérios públicos. "É um costume de pessoas de baixa renda. Não vi coisa parecida no cemitério do 

Morumbi, por exemplo". Em áreas nobres, há frases bíblicas ou poemas.

Vivos, os irmãos Avelino estariam em lados opostos hoje, no duelo entre Corinthians e Palmeiras que pode dar o título de campeão brasileiro ao alvinegro.

"Eram trabalhadores e só gostavam de futebol. Foram mortos por maldade", diz Marília, 26, filha de Irmão. O clichê "torcedor até a morte" foi seguido à risca pela família. Marília que o diga. "No domingo [hoje], eles 'vão' estar torcendo muito."

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