terça-feira, 28 de junho de 2011

Direito à morrer: a Suíça dá uma lição de vida

Câmaras filmam os últimos momentos da vida de um candidato ao suicídio, que havia sido orientado pela associação suíça Exit. O documentário será exibido no outono na televisão francesa.

O cérebro de Jean Aebischer estava cheio de metástases que poderiam levar ao coma a qualquer hora.

“A segunda e a última parte das filmagens foram os momentos mais emocionantes para mim”, explica o jornalista Stéphane Villeneuve, da agência CAPA. “Nesse dia Jean Aebischer entrava na pele de um condenado à morte”.

O diagnóstico era claro. O cérebro de Jean Aebischer havia sido invadido por metástases (migração por via sangüínea ou linfática de produtos patológicos como vírus, bactérias, parasitas ou células cancerosas, provenientes de uma lesão inicial) que poderiam, a qualquer momento, provocar uma hemorragia cerebral ou uma ruptura do aneurisma (dilatação anormal, localizada, de um vaso sangüíneo, em especial de uma artéria), conduzindo a pessoa fatalmente ao coma.

“Jean não sabia nem se iria festejar reveillon. A qualquer hora ele poderia cair em estado vegetativo, o que seria na sua opinião a pior das situações”.

Três dias após o último exame, Jean Aebischer convocou a associação suíça de eutanásia “Exit” para escolher a data do encontro final. Ele fixou seu dia de morte em 6 de janeiro.

A escolha de um ser humano

“A história acabou balançando com a minha cabeça. Nós passamos de um projeto virtual para uma realidade planificada”, relata Villeneuve.

O jornalista e a co-realisadora do documentário Stéphanie Malphettes acompanharam Jean Aebischer até o último suspiro. Porém outros documentaristas já haviam realizado a fase final de um suicídio sem, no entanto, ter acompanhado a pessoa por mais de três meses.

“Nossa proposta não era realizar um documentário sobre o suicídio acompanhado, mas sim testemunhar a escolha de um ser humano que, sabendo estar condenado, decide terminar seus dias de forma digna e em consciência”, explica Villeneuve.

A idéia do projeto já era de longa data. O caso “Humbert”, do nome de um jovem francês tetraplégico conduzido à morte por sua mãe e médico, trouxe o tema para a atualidade.

“A seção francesa da Exit nos pediu para facilitar o trabalho de uma equipe de cinegrafistas”, conta o médico Jérôme Sobel, presidente da Exit na Suíça. “Nosso objetivo era mostrar de forma transparente o que ocorre no país”.

“O melhor serviço que nós podemos realizar aos novos colegas europeus é de facilitar a abertura do debate e, no melhor caso, ajuda na modificação das leis”, afirma o médico. “É necessário a qualquer preço evitar que doentes precisem abandonar seus países para beneficiar do direito de morrer dignamente”.

Então foi necessário encontrar um candidato para as filmagens. “Nós não precisamos convencer Jean Abischer, pois ele estava satisfeito de poder testemunhar”, se lembra Nada Walter, voluntária ativa na associação Exit.

Ela, que preparou a mistura mortal de líquidos, acrescenta: - “Imagine a angústia de uma pessoa que, sabendo-se condenada, deve ainda esperar pelo momento fatal”.

Lição de vida

“Nós não éramos favoráveis à realização desse documentário, porém meu pai não quis impedir”, relata Olívia Aebischer.

Uma coisa é certa: no contexto político e emocional que transcorreu durante o caso Humbert, na França, a testemunha de Jean Aebischer não deixará o público indiferente.

“A Suíça, que muitos franceses consideram como país conservador, mostra que é capaz de dar um exemplo de abertura e tolerância”, reforça o jornalista Villeneuve.

“Se ocupar da morte é a melhor lição de vida que nós podemos dar”.

swissinfo, Vanda Janka
tradução de Alexander Thoele

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