terça-feira, 28 de junho de 2011

A morte se expõe em Berna no dia de Finados

Alegoria do caráter transitório da vida , anônimo do século XVII (Museu de Belas Artes de Berna)
Legenda: Alegoria do caráter transitório da vida , anônimo do século XVII (Museu de Belas Artes de Berna) ()

A morte e a violência são onipresentes na mídia mas a sociedade evita o contato direto com a morte. É o que mostra o Museu de Belas Artes de Berna, com a exposição «Seis pés abaixo da terra».

São caveiras, esqueletos e túmulos da época antiga ou provocações de nosso tempo: ao violar esse tabu, o museu previne os visitantes que certas obras podem chocar.

"O desafio desta exposição era encontrar a melhor maneira de falar de nossa relação com a morte em uma sociedade que prefere evacuar a idéia da mortalidade", afirma a swissinfo Bernhard Fischer, um dos curadores da exposição.

Aliás, nenhum dos patrocinadores tradicionais da cultura - os grandes bancos, seguradoras ou fundações - aceitou financiar a exposição que contou com o apoio da fundação GegenwART.

" Não gostamos dos mortos, menos em um contexto estético. Nada queremos com o moribundos. "
Thomas H. Macho, "Metáforas sobre a morte"

Cadáveres e esqueletos

De uma garande riqueza, com obras dos cinco continentes e de todas as épocas, a exposição é dividida em seis capítulos temáticos.

Intitulado "Cadáveres, caveiras e esqueletos", o primeiro capítulo trata da morte da carne, que desaparece rapidamente, e do que pode se conservar durante séculos ou mesmo milênios (os ossos).

Artistas como Andres Serrano ou Jean-Frédéric Schnyder quiseram colocar o visitante frente a uma imagem que ele quer refutar mas que exerce, paradoxalmente, uma fascinação mórbida: o corpo humano sem vida e descomposto.

Luto e rituais

O segundo capítulo da exposição, "Caixões, túmulos e lágrimas" é dedicado aos rituais funerários.

Em todas as civilizações, os mortos são alvo de rituais complexos - em geral religiosos - que se encerram com o enterro, a incineração ou depositados no fundo do mar. O caixão torna-se uma nova pele do corpo, o túmulo sua nova casa e o cemitério sua nova cidade.

O quadro «Kinderbegräbnis», de Albert Anker (1831-1910), célebre pintor da vida cotidiana suíça de sua época, reflete a linguagem corporal de parentes em luto. Há ainda caixões de artistas ganenses criados especialmente para a ocasião.

Izima Kaoru: Igawa Horuka vestida de Dolce&Gabbana. (Musu de Belas Artes de Berna)
Izima Kaoru: Igawa Horuka vestida de Dolce&Gabbana. (Musu de Belas Artes de Berna) ()

Os póximos desaparecidos

As obras expostas no capítulo intitulado "Homenagens e mortos adorados e adulados" representam os mortos que próximos de artistas.

O fato que estes falem voluntariamente de sua relação com a morte cria ao criar o perfil de um próximo que faleceu é, na realidade, uma conseqüência tardia da secularização provocada pela Revolução Francesa, forçando o indivíduo a buscar ele próprio uma resposta para as questões existenciais.

Os organizadores da exposição estimam, por exemplo, que as representações da Pietà sem dúvida serviram de modelo a essas homenagens individulizadas. Como o retrato pintado por Claude Monet de sua mulher falecida.

"A morte do artista" (4° capítulo) é, na origem, um tema romântico do século XIX por excelência. Um exemplo é o desenho de Ferdinand von Rayski, «Suicídio do artista em seu ateliê», evoca a natureza radical do suicídio.

Um modo de vida

Em seguida, "Morte e eslilo de vida" alude ao espírito neo-romântico e à nostalgia da morte, que caracterizava o movimento artístico dos anos 80. Era um movimento que queria uma resposta ao "punk" e ressuscitar o desejo da morte tal como existira no romantismo e no simbolismo.

O último capítulo, "A vida após a morte", ilustra as diversas maneiras em que os artistas concebem o "outro lado". A morte é o fim definitivo da existência física, mas talvez seja uma etapa transitória que leve a outras formas de existência.

Os artistas que se dedicaram à questão criaram diversas formas de paraíso, um mundo dos mortos-vivos e dos que voltaram. Ou então desenvolveram conceitos que fazem da morte um evento cíclico como a própria vida.

swissinfo com agências

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