terça-feira, 21 de setembro de 2010

Homenagem :: Roberto Luis Troster

Valor Econômico - 21/07/2010
 

CLT ajuda a manter o emprego. Para cada trabalhador na produção ou nas vendas outros são necessários para cumprir a lei
Ned Ludd tinha uma preocupação meritória que era a de preservar postos de trabalho e dessa forma fazer com que operários pudessem manter seu modo de vida. Para esse nobre propósito, propunha a destruição das máquinas que causavam desemprego na Inglaterra que estava se industrializando.
A nova tecnologia estava acabando com um modo de produzir de vários séculos; a máquina a vapor e o tear automático ilustram o perigo enfrentado na época. Muitos de seus seguidores, os ludistas, ao fazerem justiça com as próprias mãos, foram perseguidos, alguns presos e deportados para a Austrália, e houve até condenados à morte. Mas suas ideias sobreviveram e cruzaram o Atlântico.
No Brasil, a influência dos neoludistas é considerável. Usam métodos não violentos e mais efetivos que não só evitam o desemprego, como também geram mais cargos profissionais. Todas suas ações são amparadas na lei e dessa forma não terão o mesmo fim que seus antecessores. Alguns exemplos ilustram como promovem o bem do país.
Um caso emblemático do pensamento neoludista é o tratamento dado a alterações na vida econômica. Como novas empresas criam produtos e serviços que acabam por causar desemprego nas já existentes, a solução é bloquear sua entrada em operação. Para tanto, são colocados vários procedimentos burocráticos de forma a dificultar o início de seu funcionamento. Um levantamento do Banco Mundial mostra que são necessários 16 procedimentos diferentes para abrir uma empresa no Brasil, um dos mais elevados do mundo. Lembrando que, quanto mais complicadas forem as exigências, mais burocratas serão necessários para aferir sua validez.
Caso o empreendedor persevere e mesmo assim consiga fazer a empresa entrar em operação, terá que dedicar 2.600 horas por ano apenas para preencher a documentação e as guias para pagar os impostos. Com isso três objetivos são alcançados. Um é que é necessário empregar para o cumprimento das obrigações tributárias; outro é que, à medida que aumenta o número de exigências e sua complexidade, é mandatório ter mais fiscais; e o terceiro é que com mais impostos haverá mais recursos para pagar o funcionalismo.
A legislação trabalhista é outro exemplo de como a lei gera empregos. É complexa, abrangente e minuciosa, a consolidação de todas as normas. A CLT tem quase mil artigos aos quais devem ser adicionados os das convenções coletivas. Com isso, são necessários funcionários nas empresas para verificar o atendimento de suas exigências e dezenas de milhares de advogados e juízes para solucionar as divergências. Desse modo os empregos são multiplicados, pois para cada trabalhador na produção ou nas vendas outros são necessários para cumprir a legislação.
Os neoludistas também têm ações visando o bem do setor privado. O que aconteceu nos cartórios ilustra o ponto. Há cinco anos eram necessários, de acordo com o Banco Mundial, 14 procedimentos, 42 dias e 2% do valor da propriedade para sua transferência; conseguiu-se manter o número de procedimentos e o tempo médio, mas aumentou-se o custo para 2,7% beneficiando os trabalhadores e titulares dos cartórios. É uma instituição do tempo de Império que está sendo valorizada.
A lista de exemplos é extensa e alguns dos benefícios são mensuráveis. Brasília, a cidade mais favorecida por sua inspiração, tem uma renda por habitante que é o dobro da média nacional. É uma prova empírica que evitar mudanças é benéfico. O Banco Mundial prepara uma classificação sobre a facilidade de fazer negócios (Doing Business) em diferentes países. O Brasil regrediu algumas posições. A falha está em não perceber que quanto mais atrás, menos muda o país e tudo fica tudo como está.
Há oposição às políticas neoludistas, mas é pouca. A explicação mais razoável para as críticas é de algumas pessoas que observam que, na média, os salários do setor privado são inferiores aos do público e criticam. Falam em competitividade, mas não são competentes o suficiente para conseguir um padrinho político. Pura inveja.
Os críticos mais conhecidos são os neoliberais, que propõem mais produtividade à economia brasileira. Um risco a ser evitado, pois se a quantidade de produto por trabalhador aumentar serão necessários menos empregados, um perigo para o qual Ned Ludd alertava.
Outra sugestão dos neoliberais é que se aumente a idade de aposentadoria dos trabalhadores. Não entendem que cada novo aposentado é mais uma vaga a ser preenchida, leia-se um desempregado a menos. Mantendo-se o valor das aposentadorias igual aos salários da ativa, conseguem-se mais empregos sem perda de renda para os que se retiram em idade precoce. Essa falta de compreensão desses pensadores elucida sua baixa popularidade.
Algumas propostas levantadas são absurdas, como a de dar mais eficiência ao setor público. Seus autores não percebem que se isso acontecesse, dezenas de milhares de funcionários ficariam de braços cruzados e edifícios inteiros seriam abandonados. Seria um cataclismo social se fosse acatada.
A sorte do país é que a Secretaria de Assuntos Estratégicos está consciente desses riscos e coloca no seu diagnóstico para o planejamento do Brasil em 2022 que "As políticas neoliberais ...levaram ao agravamento da pobreza". Uma visão clara de que os princípios ludistas orientam as políticas do futuro do Brasil e que as críticas não alterarão seu rumo.
Os programas das campanhas dos candidatos a presidente também não mostram um compromisso em combater os nobres ideais neoludistas. As promessas são de mais empregos em vez de mais empresas, preocupam-se com o índice de desemprego, e devem estar conscientes que o de mortalidade de empresas não tem significado econômico. Tudo indica que é razoável supor que a influência das ideias expostas continue no próximo governo. É algo que tranquiliza.
Considerando a contribuição positiva de Ned Ludd, a proposta deste artigo é que ele seja homenageado. Tem que ser algo grandioso, proporcional a seu legado. Poder-se-ia até tentar fazer algo em conjunto com outras nações limítrofes que também seguem seus princípios. Um feriado é o mínimo, o dia do Ludismo. Se Tiradentes que era contra os impostos tem feriado, nada mais justo de que alguém a favor também tenha. Será um reconhecimento mais que merecido.
Valor Econômico - 21/07/2010
 

CLT ajuda a manter o emprego. Para cada trabalhador na produção ou nas vendas outros são necessários para cumprir a lei
Ned Ludd tinha uma preocupação meritória que era a de preservar postos de trabalho e dessa forma fazer com que operários pudessem manter seu modo de vida. Para esse nobre propósito, propunha a destruição das máquinas que causavam desemprego na Inglaterra que estava se industrializando.
A nova tecnologia estava acabando com um modo de produzir de vários séculos; a máquina a vapor e o tear automático ilustram o perigo enfrentado na época. Muitos de seus seguidores, os ludistas, ao fazerem justiça com as próprias mãos, foram perseguidos, alguns presos e deportados para a Austrália, e houve até condenados à morte. Mas suas ideias sobreviveram e cruzaram o Atlântico.
No Brasil, a influência dos neoludistas é considerável. Usam métodos não violentos e mais efetivos que não só evitam o desemprego, como também geram mais cargos profissionais. Todas suas ações são amparadas na lei e dessa forma não terão o mesmo fim que seus antecessores. Alguns exemplos ilustram como promovem o bem do país.
Um caso emblemático do pensamento neoludista é o tratamento dado a alterações na vida econômica. Como novas empresas criam produtos e serviços que acabam por causar desemprego nas já existentes, a solução é bloquear sua entrada em operação. Para tanto, são colocados vários procedimentos burocráticos de forma a dificultar o início de seu funcionamento. Um levantamento do Banco Mundial mostra que são necessários 16 procedimentos diferentes para abrir uma empresa no Brasil, um dos mais elevados do mundo. Lembrando que, quanto mais complicadas forem as exigências, mais burocratas serão necessários para aferir sua validez.
Caso o empreendedor persevere e mesmo assim consiga fazer a empresa entrar em operação, terá que dedicar 2.600 horas por ano apenas para preencher a documentação e as guias para pagar os impostos. Com isso três objetivos são alcançados. Um é que é necessário empregar para o cumprimento das obrigações tributárias; outro é que, à medida que aumenta o número de exigências e sua complexidade, é mandatório ter mais fiscais; e o terceiro é que com mais impostos haverá mais recursos para pagar o funcionalismo.
A legislação trabalhista é outro exemplo de como a lei gera empregos. É complexa, abrangente e minuciosa, a consolidação de todas as normas. A CLT tem quase mil artigos aos quais devem ser adicionados os das convenções coletivas. Com isso, são necessários funcionários nas empresas para verificar o atendimento de suas exigências e dezenas de milhares de advogados e juízes para solucionar as divergências. Desse modo os empregos são multiplicados, pois para cada trabalhador na produção ou nas vendas outros são necessários para cumprir a legislação.
Os neoludistas também têm ações visando o bem do setor privado. O que aconteceu nos cartórios ilustra o ponto. Há cinco anos eram necessários, de acordo com o Banco Mundial, 14 procedimentos, 42 dias e 2% do valor da propriedade para sua transferência; conseguiu-se manter o número de procedimentos e o tempo médio, mas aumentou-se o custo para 2,7% beneficiando os trabalhadores e titulares dos cartórios. É uma instituição do tempo de Império que está sendo valorizada.
A lista de exemplos é extensa e alguns dos benefícios são mensuráveis. Brasília, a cidade mais favorecida por sua inspiração, tem uma renda por habitante que é o dobro da média nacional. É uma prova empírica que evitar mudanças é benéfico. O Banco Mundial prepara uma classificação sobre a facilidade de fazer negócios (Doing Business) em diferentes países. O Brasil regrediu algumas posições. A falha está em não perceber que quanto mais atrás, menos muda o país e tudo fica tudo como está.
Há oposição às políticas neoludistas, mas é pouca. A explicação mais razoável para as críticas é de algumas pessoas que observam que, na média, os salários do setor privado são inferiores aos do público e criticam. Falam em competitividade, mas não são competentes o suficiente para conseguir um padrinho político. Pura inveja.
Os críticos mais conhecidos são os neoliberais, que propõem mais produtividade à economia brasileira. Um risco a ser evitado, pois se a quantidade de produto por trabalhador aumentar serão necessários menos empregados, um perigo para o qual Ned Ludd alertava.
Outra sugestão dos neoliberais é que se aumente a idade de aposentadoria dos trabalhadores. Não entendem que cada novo aposentado é mais uma vaga a ser preenchida, leia-se um desempregado a menos. Mantendo-se o valor das aposentadorias igual aos salários da ativa, conseguem-se mais empregos sem perda de renda para os que se retiram em idade precoce. Essa falta de compreensão desses pensadores elucida sua baixa popularidade.
Algumas propostas levantadas são absurdas, como a de dar mais eficiência ao setor público. Seus autores não percebem que se isso acontecesse, dezenas de milhares de funcionários ficariam de braços cruzados e edifícios inteiros seriam abandonados. Seria um cataclismo social se fosse acatada.
A sorte do país é que a Secretaria de Assuntos Estratégicos está consciente desses riscos e coloca no seu diagnóstico para o planejamento do Brasil em 2022 que "As políticas neoliberais ...levaram ao agravamento da pobreza". Uma visão clara de que os princípios ludistas orientam as políticas do futuro do Brasil e que as críticas não alterarão seu rumo.
Os programas das campanhas dos candidatos a presidente também não mostram um compromisso em combater os nobres ideais neoludistas. As promessas são de mais empregos em vez de mais empresas, preocupam-se com o índice de desemprego, e devem estar conscientes que o de mortalidade de empresas não tem significado econômico. Tudo indica que é razoável supor que a influência das ideias expostas continue no próximo governo. É algo que tranquiliza.
Considerando a contribuição positiva de Ned Ludd, a proposta deste artigo é que ele seja homenageado. Tem que ser algo grandioso, proporcional a seu legado. Poder-se-ia até tentar fazer algo em conjunto com outras nações limítrofes que também seguem seus princípios. Um feriado é o mínimo, o dia do Ludismo. Se Tiradentes que era contra os impostos tem feriado, nada mais justo de que alguém a favor também tenha. Será um reconhecimento mais que merecido.

Valor Econômico - 21/07/2010


CLT ajuda a manter o emprego. Para cada trabalhador na produção ou nas vendas outros são necessários para cumprir a lei
Ned Ludd tinha uma preocupação meritória que era a de preservar postos de trabalho e dessa forma fazer com que operários pudessem manter seu modo de vida. Para esse nobre propósito, propunha a destruição das máquinas que causavam desemprego na Inglaterra que estava se industrializando.
A nova tecnologia estava acabando com um modo de produzir de vários séculos; a máquina a vapor e o tear automático ilustram o perigo enfrentado na época. Muitos de seus seguidores, os ludistas, ao fazerem justiça com as próprias mãos, foram perseguidos, alguns presos e deportados para a Austrália, e houve até condenados à morte. Mas suas ideias sobreviveram e cruzaram o Atlântico.
No Brasil, a influência dos neoludistas é considerável. Usam métodos não violentos e mais efetivos que não só evitam o desemprego, como também geram mais cargos profissionais. Todas suas ações são amparadas na lei e dessa forma não terão o mesmo fim que seus antecessores. Alguns exemplos ilustram como promovem o bem do país.
Um caso emblemático do pensamento neoludista é o tratamento dado a alterações na vida econômica. Como novas empresas criam produtos e serviços que acabam por causar desemprego nas já existentes, a solução é bloquear sua entrada em operação. Para tanto, são colocados vários procedimentos burocráticos de forma a dificultar o início de seu funcionamento. Um levantamento do Banco Mundial mostra que são necessários 16 procedimentos diferentes para abrir uma empresa no Brasil, um dos mais elevados do mundo. Lembrando que, quanto mais complicadas forem as exigências, mais burocratas serão necessários para aferir sua validez.
Caso o empreendedor persevere e mesmo assim consiga fazer a empresa entrar em operação, terá que dedicar 2.600 horas por ano apenas para preencher a documentação e as guias para pagar os impostos. Com isso três objetivos são alcançados. Um é que é necessário empregar para o cumprimento das obrigações tributárias; outro é que, à medida que aumenta o número de exigências e sua complexidade, é mandatório ter mais fiscais; e o terceiro é que com mais impostos haverá mais recursos para pagar o funcionalismo.
A legislação trabalhista é outro exemplo de como a lei gera empregos. É complexa, abrangente e minuciosa, a consolidação de todas as normas. A CLT tem quase mil artigos aos quais devem ser adicionados os das convenções coletivas. Com isso, são necessários funcionários nas empresas para verificar o atendimento de suas exigências e dezenas de milhares de advogados e juízes para solucionar as divergências. Desse modo os empregos são multiplicados, pois para cada trabalhador na produção ou nas vendas outros são necessários para cumprir a legislação.
Os neoludistas também têm ações visando o bem do setor privado. O que aconteceu nos cartórios ilustra o ponto. Há cinco anos eram necessários, de acordo com o Banco Mundial, 14 procedimentos, 42 dias e 2% do valor da propriedade para sua transferência; conseguiu-se manter o número de procedimentos e o tempo médio, mas aumentou-se o custo para 2,7% beneficiando os trabalhadores e titulares dos cartórios. É uma instituição do tempo de Império que está sendo valorizada.
A lista de exemplos é extensa e alguns dos benefícios são mensuráveis. Brasília, a cidade mais favorecida por sua inspiração, tem uma renda por habitante que é o dobro da média nacional. É uma prova empírica que evitar mudanças é benéfico. O Banco Mundial prepara uma classificação sobre a facilidade de fazer negócios (Doing Business) em diferentes países. O Brasil regrediu algumas posições. A falha está em não perceber que quanto mais atrás, menos muda o país e tudo fica tudo como está.
Há oposição às políticas neoludistas, mas é pouca. A explicação mais razoável para as críticas é de algumas pessoas que observam que, na média, os salários do setor privado são inferiores aos do público e criticam. Falam em competitividade, mas não são competentes o suficiente para conseguir um padrinho político. Pura inveja.
Os críticos mais conhecidos são os neoliberais, que propõem mais produtividade à economia brasileira. Um risco a ser evitado, pois se a quantidade de produto por trabalhador aumentar serão necessários menos empregados, um perigo para o qual Ned Ludd alertava.
Outra sugestão dos neoliberais é que se aumente a idade de aposentadoria dos trabalhadores. Não entendem que cada novo aposentado é mais uma vaga a ser preenchida, leia-se um desempregado a menos. Mantendo-se o valor das aposentadorias igual aos salários da ativa, conseguem-se mais empregos sem perda de renda para os que se retiram em idade precoce. Essa falta de compreensão desses pensadores elucida sua baixa popularidade.
Algumas propostas levantadas são absurdas, como a de dar mais eficiência ao setor público. Seus autores não percebem que se isso acontecesse, dezenas de milhares de funcionários ficariam de braços cruzados e edifícios inteiros seriam abandonados. Seria um cataclismo social se fosse acatada.
A sorte do país é que a Secretaria de Assuntos Estratégicos está consciente desses riscos e coloca no seu diagnóstico para o planejamento do Brasil em 2022 que "As políticas neoliberais ...levaram ao agravamento da pobreza". Uma visão clara de que os princípios ludistas orientam as políticas do futuro do Brasil e que as críticas não alterarão seu rumo.
Os programas das campanhas dos candidatos a presidente também não mostram um compromisso em combater os nobres ideais neoludistas. As promessas são de mais empregos em vez de mais empresas, preocupam-se com o índice de desemprego, e devem estar conscientes que o de mortalidade de empresas não tem significado econômico. Tudo indica que é razoável supor que a influência das ideias expostas continue no próximo governo. É algo que tranquiliza.
Considerando a contribuição positiva de Ned Ludd, a proposta deste artigo é que ele seja homenageado. Tem que ser algo grandioso, proporcional a seu legado. Poder-se-ia até tentar fazer algo em conjunto com outras nações limítrofes que também seguem seus princípios. Um feriado é o mínimo, o dia do Ludismo. Se Tiradentes que era contra os impostos tem feriado, nada mais justo de que alguém a favor também tenha. Será um reconhecimento mais que merecido.

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