segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Funerais estão cada vez mais modernos e luxuosos


A morte deixou de ser só dor e sofrimento. Empresas especializadas em serviços funerários descobriram no ritual que envolve o fim de uma vida um grande negócio. Cemitérios e crematórios inovam a cada ano, oferecendo ambientes sofisticados - e por vezes caros - para realização de velórios. A oferta varia de transmissão ao vivo pela internet a salões caprichosamente decorados e personalizados. Chuvas de pétalas de rosas e revoadas de pombas completam as possibilidades de um velório inesquecível.
Entre as alternativas para incrementar a despedida de quem parte, as mais modernas e luxuosas incluem lounges com TV de plasma para que a família possa exibir filmes em homenagem ao falecido, serviços de bufês e música ao vivo. E, após a cerimônia fúnebre, equipes especializadas em terapia do luto prometem apoiar e acolher quem passa pelo sofrimento da perda de um ente querido.

No Rio Grande do Sul, uma das empresas que se destacam por investir constantemente em inovações é a Cortel S.A., especializada na construção e administração de cemitérios. Um dos sete empreendimentos gerenciados pela Cortel é o Crematório Metropolitano São José, em Porto Alegre, que oferece o serviço de velório online, criado para contemplar pessoas que não possam comparecer fisicamente às cerimônias do gênero. O sistema de transmissão privada, acessado através de login e senha, disponibiliza as imagens e sons dos velórios, em tempo real. “É algo que tem sido bastante utilizado, pois sempre há um familiar ou amigo que não reside ou não está na cidade, e não consegue se deslocar a tempo de acompanhar a cerimônia”, diz  o vice-presidente do Grupo Cortel, José Elias Flores Júnior.

O Crematório Metropolitano também possui wireless em toda sua estrutura. O sistema foi implementado há um ano e meio para que indivíduos que possuam iPhone, iPad, smarthphone ou notebook possam entrar em contato com outras pessoas, via e-mail, facilitando o envio de informações sobre o velório e o falecimento. E, mesmo quem não portar um desses aparatos tecnológicos, pode conectar-se à web através de um computador disponível ao público na cafeteria do empreendimento. “Tudo é pensado visando ao conforto das pessoas que vêm prestar a última homenagem a alguém”, explica Flores Júnior.

Segundo o empresário, o Crematório Metropolitano está na lista dos que oferecem estrutura mais moderna de atendimento e serviços. “Contamos com capelas especialmente decoradas, climatização, circuito interno de TV com monitores para informações sobre horários das cerimônias, câmeras para transmissão de velórios online pela internet, sistema de sonorização ambiente, vigilância permanente, estacionamento próprio e cafeteria com vista panorâmica para a cidade”, enumera.
O empreendimento conta ainda com um columbário, uma sala com nichos contendo urnas, onde é possível colocar flores, objetos e itens decorativos em homenagem aos que são cremados no local. “Oferecemos plano de cremação antecipado, que pode ser feito a partir de 60 vezes, em parcelas de R$ 84,00. Isso facilita, pois a cremação ou sepultamento é algo que todos um dia irão precisar, então quanto mais cedo se estiver preparado, melhor”, afirma Flores Júnior, ressaltando que mais de 20% dos clientes opta pelo plano antecipado. Os serviços incluem velório, cerimonial personalizado, cremação e urna padrão, de madeira. Há ainda a possibilidade de optar por urnas de bronze, porcelana ou mármore. No caso de quem decide pelo serviço no dia do falecimento, os custos ficam entre R$ 4 mil e R$ 17 mil, dependendo da capela escolhida.
Muito lembrado pelo ambiente harmonioso e tranquilo que oferece, o Cemitério Parque Jardim da Paz, localizado nos limites de Porto Alegre e Viamão, tem como principal diferencial na estrutura um par de capelas, separadas por uma porta móvel, que permite que as duas juntas se transformem em um grande salão, possibilitando missas e outros eventos em homenagem aos mortos. A lancheria do empreendimento, com vista para todo o parque foi planejada para que a clientela se sinta o mais confortável possível, mesmo que o motivo que a leve até lá não seja agradável.
 O local também oferece trabalho de tele-entrega de flores e propicia, às pessoas que não têm condições de se deslocar até o cemitério, o serviço de decoração de túmulos, que pode ser pago mensalmente. Outro mimo aos clientes é a chuva de pétalas de rosas no Dia de Finados, uma homenagem aos sepultados, que já virou tradição e atrai curiosos, sempre às 10h45min de todo dia 2 de novembro.

Cemitérios se transformam em museus a céu aberto

A exemplo de diversos países onde os cemitérios fazem parte do roteiro turístico das cidades, com visitação durante o ano inteiro, seja pela arquitetura e arte, importância histórica ou celebridades que se encontram sepultadas, Porto Alegre, aos poucos, passa a dar funcionalidade a esses locais. Há dois anos, a Secretaria Municipal de Turismo passou a organizar passeios orientados nos Cemitérios da Santa Casa e Evangélico, atualmente promovidos pelo projeto Viva o Centro a Pé, implementado pela prefeitura.
A ideia caiu de madura. Como na maioria das tradicionais capitais do mundo, os cemitérios de Porto Alegre formam um museu ao ar livre. São em torno de 300 belíssimas estátuas que guardam túmulos do período entre 1900 e 1940, época em que havia disputa entre as famílias abastadas na arte de ornamentar os jazigos. As estátuas eram, em geral, encomendadas a escultores italianos, espanhóis e alemães. Nesse quesito, os cemitérios com maior número de estátuas são o São Miguel e Almas, e o da Santa Casa de Misericórdia, ambos nos altos da Azenha.
Segundo a arquiteta Gicelda Weber Silveira, mestre em teoria, história e crítica de arquitetura pelo Propar/Ufrgs, o empreendimento da Santa Casa é referência em arte cemiterial. “Lá tem uma ala histórica que atrai muitos turistas, além de uma importante área de esculturas, que lembram muito os túmulos franceses.” Gicelda foi guia em dois passeios promovidos pelo Viva o Centro a Pé e afirma que os passeios foram bem concorridos. “Em ambas as ocasiões o ônibus que transporta os visitantes estava lotado”, recorda.
Apesar de o cemitério da Santa Casa ser bastante atrativo, Giselda chama atenção para a originalidade da arquitetura do São Miguel e Almas. “Ali há túmulos muito bem elaborados. Sem dúvida, é um dos cemitérios mais inovadores, com arquitetura peculiar, com galerias de grandes dimensões”, avalia.
Visitar um cemitério antigo, opina Gicelda, permite avaliar diferentes informações: desde a história referente aos túmulos mais antigos e personagens ligados à cidade, passando pelo fator étnico-genealógico, através da observação das inscrições, sobrenomes e famílias. Além da arte sepucral, o lado econômico e social presente nas dimensões, materiais utilizados, acabamentos e localização dos túmulos é um dos destaques na análise dos passeios, enfatiza a arquiteta.

Despedidas podem ser glamourosas

Em São Paulo, a Funeral Home, empresa que ocupa um casarão construído em 1928, que está em fase de tombamento nas imediações da avenida Paulista, aluga salas a partir de R$ 2,5 mil por dia. Se a pessoa optar pelo velório completo, incluindo a maquiagem do falecido, uma boa urna e flores para a decoração, irá gastar de R$ 8 mil a R$ 12 mil. Além de chá e café, podem ser solicitados salgados ou sopas quando o evento ocorre de madrugada. A casa conta com manobristas e seguranças.
Quando se trata de luxo em cerimônia fúnebre, não se pode deixar de citar o Grupo Bom Pastor, com 31 unidades em São Paulo e Minas Gerais. Os pacotes chegam a até R$ 51 mil, dependendo do grau de personalização. Os mais básicos incluem o velório em salas com decoração especial, música ao vivo e a revoada de 30 pombas brancas nascidas e treinadas em cativeiro. Pelo custo de R$ 2,5 mil, os clientes também podem optar pelo transporte do corpo em uma limusine adaptada.

Terapia do luto ganha espaço

Após a cerimônia de despedida de um falecido, quem fica às vezes não sabe lidar com a separação. Atentos a isso, muitos empresários do setor funerário oferecem serviços de terapia do luto para apoiar os clientes. O Grupo Cortel, que administra também os cemitérios Sant Hilaire, em Viamão, Cristo Rei, em São Leopoldo, São Vicente, em Canoas, Memorial da Colina em Cachoeirinha, e São Francisco de Paula, em Pelotas, periodicamente oferece palestra de apoio a enlutados, esclarecendo como proceder em caso de perda de filhos e mortes violentas, entre outros fatores agravantes. “Este mês, estamos abordando as óticas das diversas religiões em relação ao luto”, cita o vice-presidente da empresa, José Elias Flores Júnior. “Nosso atendimento não se dá somente no velório, sepultamento ou cremação, mas posteriormente a estes eventos também”, destaca.
Segundo o empresário do Grupo Cortel, as pessoas gostam e se sentem amparadas com mais este diferencial. “Essas coisas eram inimagináveis há 10 anos, mas vão se criando novos paradigmas, e a partir disso se estabelecem regras de mercado, que acabam tornando certos serviços quase que obrigatórios”, avalia.
O Cemitério Parque Jardim da Paz também se dedica em auxiliar famílias enlutadas. O Grupo de Reflexão Além da Vida (Grav), com atividades bimestrais dentro do empreendimento, agrega pessoas que desejam pensar sobre a vida e a morte. “É muito importante também a participação daqueles que têm dificuldades em aceitar a partida definitiva de familiares, amigos e pessoas queridas”, opina o administrador do cemitério, Gerci Perrone Fernandes. A dinâmica de cada reunião do Grav são palestras realizadas no templo ecumênico do Jardim da Paz, com temas diferenciados. O trabalho envolve profissionais experientes e preparados em tratar o luto.
Vinculada à empresa Cortel, através de parceria, a Clínica de Psicologia e Apoio ao Luto, localizada no bairro Auxiliadora, na Capital gaúcha, também promete amenizar a dor de quem perde alguém para a morte. De acordo com a psicóloga Karina Kunieda Polido, um serviço de palestras informativas ocorre nos empreendimentos da empresa especialista em serviços fúnebres. As datas destes encontros sãopredefinidas e os mesmos são abertos ao público. “São conversas visando a acolher os enlutados, mas nestes locais não realizamos psicoterapia propriamente dita”, explica Karina. A psicóloga admite que, em alguns empreendimentos, as palestras acabam servindo como um espaço terapêutico, uma vez que muitas pessoas retornam em mais de um encontro. 
Já na Clínica do Luto, a demanda é grande entre os pacientes, afirma Karina. “Às vezes, pessoas que participam das palestras nos cemitérios decidem entrar para o processo de psicoterapia individual.” No caso de haver tratamento, os valores são adequados de acordo com a necessidade de cada um, revela.

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